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Guiana deve ultrapassar a Venezuela como maior produtor de petróleo

A produção de petróleo do pré-sal atingiu média de 2,3 milhões de barris por dia no ano passado. (Foto: Reprodução)

Suspensa no Brasil por decisão do Ibama, a exploração de petróleo na Margem Equatorial, faixa costeira no norte da América do Sul voltada para o Caribe, provocou um dos maiores avanços econômicos do mundo na Guiana. O pequeno país encravado no extremo norte do continente deixou o posto de um dos mais pobres para ter uma das maiores rendas per capita da região em menos de uma década, com projeções de ultrapassar a Venezuela como maior produtor sul-americano em breve.

A produção de petróleo estimada para 2023 no país é de 318 mil barris por dia, segundo consultorias internacionais, embora fontes do setor apontem que o número atual já gire em torno de 500 mil. As mesmas projeções indicam que o país deve atingir a produção de 1,5 milhão de barris entre 2030 e 2031 — enquanto fontes dizem que a marca de 1 milhão deva chegar antes do previsto.

Ex-colônia de Espanha, Holanda e do Império Britânico, a Guiana era um dos países mais pobres da América do Sul quando os primeiros grandes depósitos de petróleo foram encontrados em 2015. Com uma população inferior a 1 milhão de habitantes, o país tinha uma renda per capita menor que todos os seus vizinhos, com exceção da Bolívia (então com 15 milhões de habitantes), segundo o Banco Mundial.

Em 2021, segundo os dados mais recentes do mesmo banco, a renda per capita de US$ 10 mil do país ultrapassou a do Brasil e é a quarta maior do continente, atrás de Chile, Argentina e Uruguai.

Além dos poços em operação, o país dispõe de reservas comprovadas de 12 a 15 bilhões de barris. Com as descobertas e as prospecções na região, o país deve ver sua produção de petróleo aumentar em cinco vezes na próxima década, de acordo com uma projeção feita pela consultoria internacional Wood Mackenzie.

“Na Guiana, existem várias empresas (na fase de prospecção) mas por enquanto o único bloco que teve sucesso comercial é operado pela Exxon com Hess e a CNOOC”, explicou Marcelo de Assis, chefe do departamento de Exploração & Produção (Upstream) da Wood Mackenzie.

O cenário animador criado pelos primeiros resultados na Guiana não resultou em uma investida sem freios. Empresas como QatarEnergy, TotalEnergies, Tullow Oil, Repsol, Frontera Energy Corporation, Ratio Petroleum Energy, CGX Energy, JHI Associates e Cataleya Energy Corporation ainda fazem estudos de prospecção e mapeamento da região antes de se comprometerem com grandes investimentos.

Concorrência

Os reservatórios de petróleo em terra e offshore da Guiana não são uma garantia de que existam bacias similares em outros trechos da Margem Equatorial. Pesquisas realizadas no vizinho Suriname, por exemplo, encontraram mais reservas de gás natural do que de petróleo. Fontes do setor indicam que, sem prospecções, não é possível afirmar se há o insumo e a viabilidade econômica da área brasileira.

Equatorial no Amapá, é possível que a Petrobras entre na disputa pelo direito de exploração do combustível fóssil no país vizinho, uma vez que a estatal precisa dos recursos do petróleo para fazer sua própria transição energética.

A expertise adquirida com o pré-sal, na leitura dos executivos, tornaria a empresa um forte concorrente.

Segundo fontes da estatal, a empresa brasileira teria pago pelos dados sísmicos da região antes da rodada de licitações de 14 blocos preparada pela Guiana, cuja data final de apresentação de propostas vai até 15 de julho. A licitação ocorrerá no modelo de partilha, como é feito no pré-sal do Brasil, no qual parte dos ganhos vai para o caixa do governo. Procurada para se manifestar, a estatal não retornou.

“Provavelmente (o leilão terá sucesso), mas é difícil antecipar, pois é um processo diferente e existe também uma negociação do governo guianês diretamente com empresas estatais estrangeiras”, explicou Assis.

Risco ambiental

A negativa do Ibama para perfuração do poço de exploração no Amapá, próximo da foz do Rio Amazonas, considerou principalmente os riscos de um possível vazamento, principalmente pela localização próxima a unidades de conservação, comunidades indígenas, ribeirinhas e quilombolas.

E parecer conjunto feito pelo Ministério Público Federal do Pará e do Amapá já havia destacado a “elevada probabilidade” do óleo, em caso de vazamento no Brasil, avançar sobre território internacional, sobretudo no mar territorial da Guiana Francesa e sobre a costa de países caribenhos.

A regulamentação mais frouxa na Guiana acabou levando as empresas em atuação no país a criar espécies de mecanismo de autorregulação, fiscalização e controle. De acordo com uma fonte, as próprias empresas têm pesado os riscos de imagem que um vazamento provocaria, antes de iniciarem suas operações no país. A lógica, disse ele, é a mesma que foi utilizada pelas grandes empresas que não aderiram à exploração de petróleo em Abrolhos, no governo de Jair Bolsonaro.

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