Depois de confessar o assassinato de Daniella Perez, o ator Guilherme de Pádua e sua então mulher, Paula Thomaz, deram à polícia relatos que faziam o crime parecer algo não premeditado. Como se a morte violenta da atriz aos 22 anos tivesse ocorrido na confusão de uma briga, o que poderia representar um atenuante penal. Mas, examinando o local do crime e também o corpo da vítima, a perícia policial não apenas descartou a versão deles como também levantou graves indícios de que a jovem artista teria sido executada num ritual macabro. A hipótese não foi comprovada na Justiça, mas, para muita gente, os elementos revelados na investigação deixaram, no mínimo, a dúvida no ar.
Daniella e Pádua interpretavam o par romântico formado por Yasmin e Bira na novela de “De corpo e alma”, de Glória Perez, mãe da atriz. Na noite de 28 de dezembro de 1992, Daniela deixou o estúdio Tycoon, no Rio, onde gravara cenas da produção, em seu carro, um modelo Escort, e foi seguida por Pádua e Paula, dentro de um Santana. Horas mais tarde, Daniella foi encontrada morta num terreno baldio perto da Rua Cândido Portinari, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste, com 16 perfurações no peito e no pescoço. Dias depois, legistas disseram que a cena do crime tinha elementos de ritual satânico.
Antes de ser preso, Guilherme de Pádua chegou a consolar Glória Perez pelo telefone e deu até um abraço no marido de sua vítima, o também ator Raul Gazolla, uma hora depois do assassinato. Na manhã seguinte, porém, a polícia bateu na porta do criminoso. O artista mineiro de então 22 anos ainda tentou negar seu envolvimento, mas decidiu reconhecer depois de saber das provas. Na noite anterior, uma testemunha anotara a placa de seu Santana quando o carro estava perto do Escort de Daniella, ao lado do local onde, horas depois, o corpo dela foi encontrado.
Em entrevista à imprensa na época, o então diretor da Polícia Técnica, Talvane de Moraes, contou que, em primeiro lugar, não encontrara nenhum indício de que, no momento do crime, a atriz reagira ao ser golpeada com um objeto perfurocortante. A constatação levava a crer que Daniela já estivesse inconsciente quando começou a receber a sequência de quatro estocadas no pescoço e outras 12 no peito, que atingiram seu coração e um pulmão, provocando anemia aguda e morte.
Na versão do assassino, as estocadas foram aplicadas com uma tesoura que estava no carro. O laudo pericial, porém, revelou ferimentos causados por um objeto perfurocortante com dois gumes e que deixou marcas características de um punhal, bem definidas. Foram quatro golpes no pescoço e, em seguida, 12 no peito. Segundo os legistas, uma tesoura teria que estar aberta para ser perfurocortante, o que provocaria uma quantidade de lesões superficiais e outras na mão do agressor, o que não aconteceu. Além disso, os furos na blusa da vítima mostravam que o instrumento não entrou esgarçando a malha, como uma tesoura faria, mas cortando, como uma lâmina de dois gumes.
As evidências do uso de um punhal reforçaram a linha de investigação segundo a qual Daniella havia sido morta num ritual de magia das trevas. Havia outros indícios. O corpo de Daniella foi encontrado no interior de um círculo queimado dentro de um matagal, ao pé de uma árvore, perto de pequenos ossos de animal. Na palma da mão direita da atriz, havia uma mancha avermelhada causada por substância não identificada e também verificada na árvore. Além disso, os ferimentos observados no peito da vítima formavam um círculo ao redor de seu coração.
Os advogados da família da vítima chegaram a defender a hipótese de que houve um rito satânico no ato da morte. A própria Glória Perez acreditava nisso. Mas essa tese não prosperou na Justiça. A motivação comprovada no julgamento foi a de que Pádua vinha assediando Daniella para obter mais destaque na novela, já que a atriz era filha da autora. Na semana do crime, ficou inseguro ao perceber que seu personagem perdia espaço e achou que Daniella contara à mãe sobre suas investidas. Para se vingar, convenceu a mulher de que a atriz o estava assediando, e os dois planejaram o assassinato.
Guilherme de Pádua e Paula Thomaz foram condenados. Ele foi sentenciado a 19 anos de prisão, e ela, a 18 anos.