Quinta-feira, 02 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 30 de dezembro de 2024
Xavier Rolet já não era CEO em tempo integral, mas tinha cargos em conselhos de administração quando recebeu uma ligação convidando-o para voltar à universidade. Isso o fez pesquisar o número cada vez maior de programas para profissionais bem-sucedidos – muitos deles ricos – que entram na “terceira fase” de suas vidas. Ele acabou assinando com a instituição pioneira na ideia.
O ex-executivo de banco de investimento e ex-chefe da Bolsa de Valores de Londres mudou-se para Cambridge (EUA) e se comprometeu a ficar por um ano, como parte da turma de 2024 de 40 participantes da Iniciativa Avançada de Liderança (ALI, na sigla em inglês), da Universidade Harvard. Eles pagam a taxa normal de pósgraduação de cerca de US$ 80 mil, mais os custos de acomodação, e há bolsas disponíveis para os que precisam. Rolet, de 64 anos, ficou tão impressionado que decidiu permanecer por vários meses a mais para ajudar a próxima turma.
Cada pesquisador chega ao programa com uma ideia para um projeto de impacto social e aproveita a experiência acadêmica de Harvard e suas redes para levar o projeto a cabo. “Você não está aqui para impressionar, mostrar quem tem o maior cérebro ou a carteira mais recheada, mas para criar um ambiente de equipe que permita a cada participante executar seu projeto com sucesso”, diz Rolet.
A ideia da ALI remonta a um artigo acadêmico de Harvard de 2005 – “Um novo modelo para universidades: uma terceira etapa da educação”. Os autores identificaram que há um grupo cada vez maior de líderes experientes para quem “aposentar-se e jogar golfe não é o futuro que anseiam” e para quem “uma escola [poderia] ajudá-los a atender às necessidades sociais”. Eles argumentaram que as universidades deveriam oferecer programas para “criar uma população mais saudável e feliz na terceira idade”, que seja mais realizada e produtiva, e não vista como um custo para a sociedade.
Desde o lançamento da ALI em 2008, mais de 700 pesquisadores concluíram o programa. A demanda é evidente: atualmente, a ALI recebe dez vezes mais inscrições do que vagas disponíveis, e muitos de seus “graduados” já começaram a produzir resultados. Ex-alunos já lançaram organizações que ajudam a colocar migrantes em empregos qualificados, a melhorar a saúde pública, a impulsionar a reabilitação após detenções e a combater o tráfico sexual. Dois deles desenvolveram um modelo de negócios para um programa educativo infantil e ganharam um prêmio de US$ 100 milhões da Fundação MacArthur para apoiar crianças em zonas
de conflito, como a Síria.
Marcelo Medeiros, um aluno atual, está aprofundando seu entendimento científico para fortalecer a re.green, empresa fundada por ele para vender créditos de carbono com foco na restauração de florestas no Brasil. “Estou realmente me esforçando em tentar usar meu tempo para me concentrar em aprender”, diz.
Inspirando universidades
A ALI já teve outros efeitos, como inspirar outras universidades a lançar iniciativas similares. Quase 30 instituições acadêmicas dos Estados Unidos, Canadá, Suíça e Reino Unido agora são membros da Nexel Collaborative, que reúne “programas universitários de transição para a meia-idade”. São iniciativas com abordagens variadas.
Katherine Connor, que comanda o Distinguished Careers Institute, de Stanford, um programa de acompanhamento criado em 2015, diz que a iniciativa foi fundada por um ex-reitor da faculdade de medicina que vê as questões de propósito, comunidade e bem-estar como chaves para uma vida mais longa. “É pensar mais sobre seu legado do que sobre seu currículo”. Assim como em Harvard, os
participantes pagam as taxas usuais de um estudante pelo ano letivo e arcam com os próprios custos de acomodação, embora também existam bolsas disponíveis para aqueles que precisam.
Thomas Schreier, diretor da Inspired Leadership Initiative, da Universidade de Notre Dame (cujos custos são de cerca de US$ 65 mil), explica que na instituição há menos ênfase do que em Harvard em ter um projeto definido desde o início e mais foco na autodescoberta. “As pessoas ainda têm muita gasolina no tanque. Elas querem fazer algo diferente, mas não conseguem descobrir.”
Shelly London, aluna da primeira turma da ALI, teve uma carreira empresarial em marketing, tendo trabalhado na AT&T e American Standard Companies, mas, desde seu período em Harvard, mudou de rumo. Passou a liderar uma fundação, lançou várias ONGs e continua lecionando na escola de negócios da Universidade de Nova York. As informações são do Valor Econômico.