Terça-feira, 24 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 25 de agosto de 2024
Não há surpresa no envelhecimento da população brasileira. O relógio da demografia acelerou, e a proporção de idosos crescerá mais do que se previa. Isso exigirá mais urgência do governo na implementação de políticas públicas adequadas. Os principais desafios são dois: preparar os jovens da melhor maneira possível enquanto a população envelhece; oferecer oportunidades e apoio aos mais velhos.
As projeções mais recentes do IBGE, as primeiras com base no Censo de 2022, preveem que daqui a 18 anos — em 2042 — a população brasileira começará a cair (pela estimativa anterior, ela diminuiria só a partir de 2048). “Após a pandemia, a trajetória foi de queda [no crescimento]. E num ritmo cada vez maior”, diz Marcio Minamiguchi, gerente de Projeções e Estimativas Populacionais do IBGE. Por trás do movimento demográfico está a fecundidade menor. Em 2000, nasceram 3,6 milhões. Em 2022, 1 milhão a menos. Projeta-se apenas 1,5 milhão de nascimentos em 2070. A população também envelhecerá mais rápido. De 2000 a 2023, a proporção de idosos quase dobrou, de 8,7% para 15,6%. Hoje, a maior parcela da população (26,2%) está na faixa de 40 a 59 anos. Os idosos serão preponderantes em 2042 e chegarão a quase 40% em 2070.
O Brasil tem o custo adicional de ter deixado passar o ciclo em que a população economicamente ativa, entre 15 e 64 anos, aumenta sua participação no total, conhecido entre demógrafos como “bônus demográfico”. É um período que favorece o crescimento econômico apenas pela entrada de mais gente na força de trabalho. Essa participação começou a cair em 2018 (ou 2017 se considerada a faixa de 15 a 59 anos) e, a partir de 2030, a população ativa começará a diminuir. Será preciso encontrar meios de gerar mais riqueza com menos gente trabalhando. O nome que os economistas dão a isso é produtividade. Sem aumentá-la, o empobrecimento será consequência inevitável da nova realidade demográfica.
Não há país desenvolvido que não tenha aproveitado o bônus demográfico para aumentar a capacidade de inovação e a produtividade. A má notícia para o Brasil é que o tempo está passando, e o país ainda não resolveu problemas já superados noutros países que souberam se beneficiar ao máximo da entrada de jovens na força de trabalho. Os desníveis de renda e bolsões de pobreza são as marcas visíveis de distorções que persistem. Já está certo que o Brasil ficará velho antes de ficar rico.
É verdade que o envelhecimento também traz oportunidades. Um caminho é criar atividades em que os idosos também possam gerar riqueza. “Os pessimistas encaram a população da terceira idade como passivo e ‘peso morto’ para a economia”, escreveu o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves. “Mas o fim do primeiro bônus demográfico não é o fim do mundo, pois ainda temos o segundo bônus demográfico — bônus da produtividade — e o terceiro bônus demográfico — ou bônus da longevidade e da geração prateada.”
Seja como for, o impacto nas políticas públicas tem de ser avaliado desde já. Investimentos em saúde precisarão dar mais peso a idosos e à população de meia-idade. Cidades e transporte público deverão se adaptar à nova demografia. Sobretudo na educação, principal alavanca da produtividade, ainda há muito a fazer. O tempo, demonstram os números, não dará trégua. (Opinião/O Globo)