Há uns cinco anos, a avicultura gaúcha vive uma crise de identidade. Não se sabe se quem segue na atividade é herói ou louco. Ser herói tem um estigma bonito, de quem enfrenta o desafio destemidamente por uma causa maior. O louco é aquele que permanece no mesmo caminho ou por comodismo ou por falta de capacidade analítica. Com o atual cenário formado por um mercado avícola gaúcho esmagado e com a competitividade do setor fragmentada, concluo que a cadeia produtiva setorial avícola tem heróis e loucos.
A realidade é angustiante e a perspectiva de mudanças positivas fragmenta-se no ar. O volume de carne de frango e derivados vindos de outros estados para o RS beira à crueldade. Dados recentes da Secretaria da Fazenda mostram que 57% da carne de frango congelada comercializada no RS vem de outras regiões do Brasil, o que revela nossa fragilidade, onde nos sujeitamos à total falta de competitividade. É notória a estagnação de alguns setores no RS devido excesso de cobranças, taxações e burocracia em alguns processos, enquanto outras regiões do país estão a pleno no desenvolvimento e investimentos.
O alto preço do milho registrado nos últimos 3 anos trouxe uma outra realidade para o cálculo do custo de produção para o setor, mesmo com recente arrefecimento das cotações do grão. A sequência dos fatos é simples. O RS sofre com o déficit de milho, que impacta no custo de produção do setor, que busca em outras unidades da federação, e até outros países, um volume aproximado de 3,2 milhões de toneladas, correspondendo a uma cifra de aproximadamente R$ 4 bilhões. Estas operações ainda geram divisas para outros estados, quando se trata de impostos como o ICMS.
Enquanto a agonia toma conta do setor, a demora para entregar soluções objetivas e coerentes é uma incógnita.
O governo do RS instalou um grupo de trabalho de proteína animal para ajudar o setor a recuperar a competitividade. Esperamos por uma resposta que contemple ações, como a suspensão do F.A.F e retorno de incentivos fiscais, renegociação de financiamentos, revisão de prazos, linhas para capital de giro, entre outras propostas para puxar o setor da areia movediça. Aguardamos com confiança temperada de desespero pela agilidade do retorno, pois nessa toada, teme-se o encolhimento do setor avícola gaúcho, com criatórios falindo
ou produtores abandonando a atividade. Hoje, a avicultura gaúcha representa 650 mil vagas de trabalho direta e indireta no RS, estando presente em 260 municípios no RS, gerando divisas e atividades rurais, produzindo alimentos para a população brasileira e de diversos países.
A produção de carne de aves no RS é de 1,9 milhões de toneladas e a exportação em 2022 atingiu a faixa de 756 mil toneladas. Precisamos dos governos estadual e federal e de todos que possam juntos apresentar uma proposta coerente na esfera tributária para o setor fazer a travessia e sair dessa sobrevida. Heróis e loucos que optaram por ficar, querem contar uma nova narrativa para o setor. O fato é que tanto um quanto o outro ama a atividade e espera pelo dia em que a capacidade competitiva que foi tirada do avicultor gaúcho seja devolvida.
Sabemos que soluções não virão em cinco dias. Tomara que julho de 2023 seja lembrado como o mês da mudança, quando heróis e loucos se transformaram, em Avicultores, com A maiúsculo, carregados de força e competição.
– José Eduardo Dos Santos (Presidente Executivo da Organização Avícola do RS)