Sabidamente a pressão arterial está sujeita a pequenas alterações frequentemente condicionadas a várias situações tais como o estresse mental e físico. Ela ainda sofre interferência de inúmeros fatores como noites mal dormidas, alimentações com sobrecarga de sal (ainda que no mesmo dia da aferição), pequenas alterações no humor e até da posição que a pressão é aferida (sentado, deitado ou em pé). Assim, no indivíduo considerado normotenso, essas variações são pequenas e consideradas fisiológicas, ou seja, normais.
Mas o que ocorre com grande frequência no consultório médico é a aferição de pressão arterial maior ou igual a 140 x 90 mmHg (elevação que não é suficiente para colocá-lo na categoria de um paciente hipertenso) em pacientes que informam apresentar valores menores em outros ambientes, ou seja, na ausência do médico. Assim deve-se pensar na possibilidade de hipertensão do avental ou jaleco branco.
Que fique claro, esta aferição no consultório não pode alcançar valores muito elevados (pressão sistólica até 159 mmHg e/ou diastólica até 99 mmHg) e não deve haver repercussão nos chamados órgãos-alvo (coração, cérebro, rins) e nas artérias.
Então existe e é preciso cuidado
É uma situação que de fato existe, mas parece sugerir no mínimo uma tendência a pressão alta, visto que estudos recentes demonstraram que uma considerável população de pacientes com diagnóstico de hipertensão do avental branco se torna definitivamente hipertensa. A prevalência da hipertensão do avental branco é de aproximadamente 20%, sendo mais frequente no sexo feminino e na população com idade mais avançada.
A elevação da pressão arterial no consultório médico causa, muitas vezes, superestimação da situação e do diagnóstico e isso tem sido responsável pelo excesso de medicação prescrita em considerável número de pacientes. Por isso a avaliação nestes pacientes precisa ser mais criteriosa. Ainda para efeito didático, é importante não confundir hipertensão do jaleco branco (onde o paciente não é considerado hipertenso) com efeito do jaleco branco, onde o paciente é hipertenso, mas suas medidas no consultório são ainda mais altas do que as que apresenta em casa.
O que fazer?
Quando se afere a pressão arterial elevada no consultório médico e se recebe a informação que esta situação não se repete fora desse ambiente, durante a consulta, essa aferição deve ser feita pelo menos três vezes com 5 a 10 minutos de intervalo, utilizando-se a médias das duas últimas medidas como referência.
Mesmo assim, quando persiste este impasse (Informação x aferição) prevalece a informação, mas com ressalvas. Costumo dizer a esses pacientes que a consulta medica é apenas uma das inúmeras situações de estresse das muitas a que somos submetidos em nosso dia a dia e portanto é necessária uma melhor avaliação durante a sua rotina semanal. Até porque, ainda que o médico esteja convencido da necessidade de tratamento medicamentoso, se o mesmo não ocorrer com o paciente, certamente não haverá adesão a esse tratamento.
Por que é importante esse diagnóstico?
O diagnostico de hipertensão arterial deve obedecer a critérios rigorosos, porque pode tratar-se de uma doença silenciosa e pelo desenvolvimento de possíveis ou mais que isso, prováveis complicações. Dado arsenal terapêutico vasto e com posologia cômoda atualmente (na maioria das vezes toma-se um comprimido ao dia) e ainda quase sempre sem efeitos colaterais, ninguém mais precisa conviver com o descontrole da pressão arterial.