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Histórico de golpes em massa no Brasil é longo, a memória é curta

O apetite luciferino de golpistas pelo dinheiro suado do povo, no Brasil, é inesgotável. A pirâmide Boi Gordo (dos anos 90) teve propaganda em tevê aberta com Antônio Fagundes e tudo! Deixou 30 mil lesados com um rombo de 30 bilhões. A pirâmide Avestruz Master veio logo em seguida (começo dos anos 2.000) e deu um prejuízo somado de 1 bilhão para pessoas comuns. Neste como naquele, os investidores novos pagavam os antigos em um esquema insustentável no tempo (igualzinho à nossa previdência!) e em ambos o prejuízo jamais foi totalmente ressarcido.

E assim tem sido sucessivamente: o caso Telexfree, a Atlas Quantum, mais recentemente o faraó dos Bitcoins, jogo do tigrinho anunciado por influenciadores que deveriam estar na cadeia, as “Bets” anunciadas por atletas profissionais, o caso Blaze… mas por que no nosso país? Talvez a resposta não esteja aqui no Brasil, mas no Haiti, onde a pobreza é ainda mais pronunciada e o número de pessoas vivendo na miséria é bem maior: lá há uma explosão absurda de casas lotéricas – até clandestinas – e os haitianos apostam nelas com frequência diária, com a quantia que puderem ganhar, fazendo o que puderem fazer, inclusive prostituição. Assisti a um documentário sobre o lugar: em vilarejos onde não há água encanada, hospitais e farmácias, há um sem-número de casas lotéricas. Um morador explica o fenômeno: “aqui no Haiti, a única forma de dormir com esperança é apostar o que você tem na loteria”.

Eu desconfio de um outro fator – para além do nosso fado de subdesenvolvimento – e corro o risco de ser acusado de enxergar, na vítima, o réu. Mas não cai nesses golpes quem não está à procura de dinheiro fácil e de origens obscuras. A “emoção” desses esquemas consiste em imaginar que você está ganhando dinheiro de uma forma que o vizinho não sabe como fazer e é exatamente essa a ideia frequentemente mais usada pelos golpistas para ganhar adeptos. Frases como “deixe o seu dinheiro trabalhar para você”, “pare de ser um escravo do sistema”, “seja diferenciado” são comuns em propagandas que usam como fundo de tela uma vida aventureira, praiana, descolada (igualzinho às propagandas de cigarro nos anos 90).

Quanto à segunda razão, não chuto: um estudo do Ph.D Kenneth Freundlich me dá razão. Deixo alguma solução? Não, porque implante de miolos ainda não é socialmente aceito. E o histórico de golpes em massa no Brasil é muito longo (e a memória muito curta) para pensarmos que isso vai parar em algum momento.

(Matheus Pitaméia)

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