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Por Redação O Sul | 15 de agosto de 2022
Embora a demência e suas diversas causas ainda não seja totalmente compreendida pela ciência, existem hábitos que comprovadamente ajudam a reduzir o risco da perda cognitiva. Muitos deles são considerados hobbies do dia a dia, como ler um livro, fazer aulas de dança ou outras atividades que instigam o corpo e a mente. Um novo estudo, publicado na revista científica da Associação Americana de Neurologia, Neurology, decidiu estimar o quanto é possível prevenir a neurodegeneração com essas práticas cotidianas, e os resultados apontam para benefícios que chegam a um risco até 23% menor.
“Estudos anteriores mostraram que as atividades de lazer estavam associadas a vários benefícios à saúde, como menor risco de câncer, redução da fibrilação atrial e percepção da pessoa sobre seu próprio bem-estar. No entanto, há evidências conflitantes sobre o papel dessas atividades na prevenção da demência. Nossa pesquisa descobriu que atividades de lazer como fazer artesanato, praticar esportes ou voluntariado, estão associadas a um risco reduzido de demência”, diz o autor do estudo Lin Lu, pesquisador da Universidade de Pequim, na China, em comunicado.
O trabalho conduzido pelos cientistas chineses é uma meta-análise de 38 estudos de diversos países que acompanharam mais de dois milhões de pessoas com mais de 45 anos por ao menos três anos, e avaliaram o desenvolvimento de quadros de demência. As atividades de lazer foram divididas em cognitivas, físicas e sociais.
Durante as pesquisas analisadas no novo estudo, os participantes relatavam informações sobre a rotina de práticas de lazer por meio de questionários e entrevistas. Ao fim de todos os trabalhos, foram registrados 74.700 diagnósticos de demência.
Em seguida, os cientistas ajustaram fatores como idade, gênero e escolaridade, para conseguir identificar o impacto real das atividades numa possível menor incidência do problema. A conclusão foi que, no geral, uma rotina com atividades de lazer levaram a uma redução de 17% no risco para o diagnóstico.
Quando consideradas somente as atividades cognitivas, os benefícios foram ainda maiores. Entre aqueles que relataram práticas como ler um livro; escrever por prazer; assistir à televisão; ouvir o rádio; jogar jogos; tocar instrumentos musicais; utilizar um computador e fazer artesanato, o número de pessoas com demência chegou a ser 23% menor.
Já as atividades enquadradas como físicas – caminhada; corrida; natação; ciclismo; musculação; yoga; dança e outros esportes – foram associadas a uma redução de 17% na probabilidade de um diagnóstico.
Aquelas atividades chamadas de sociais, que basicamente envolviam comunicação com outras pessoas, demonstraram um impacto um pouco menor, mas ainda positivo: uma incidência 7% menor da demência. Foram englobadas práticas como assistir a uma aula; participar de um clube social; fazer trabalho voluntário; visitar parentes e amigos e frequentar cultos religiosos.
“A meta-análise sugere que ser ativo traz benefícios, e há muitas atividades fáceis de incorporar à vida cotidiana que podem ser benéficas para o cérebro. Nossa pesquisa descobriu que as atividades de lazer podem reduzir o risco de demência. Estudos futuros devem incluir amostras maiores e tempo de acompanhamento mais longo para revelar mais ligações entre atividades de lazer e demência”, acrescenta Lu.
Os cientistas destacam, no entanto, que os estudos são do tipo observacional. Portanto, embora de fato encontrada uma ligação entre as atividades e a redução do risco, não foram avaliados os mecanismos pelos quais as práticas proporcionam os benefícios. Além disso, uma limitação do trabalho é que os dados foram obtidos a partir dos relatos dos participantes, que podem envolver inconsistências.
Hábitos de saúde reduzem risco em até 43%
Um outro estudo publicado na Neurology, conduzido por pesquisadores do Centro Médico da Universidade do Mississipi, nos Estados Unidos, avaliou que um conjunto de sete hábitos simples, já preconizados pela Associação Americana do Coração para uma melhor saúde cardiovascular, pode também prevenir o desenvolvimento de demências em até 43%, até mesmo para aqueles com predisposição genética.
De forma resumida, as práticas conhecidas como “os 7 simples da vida” são: permanecer ativo; adotar uma alimentação saudável; evitar o sobrepeso; não fumar; manter a pressão arterial adequada; controlar o colesterol e a taxa de açúcar no sangue. Especialistas explicam que a relação se deve ao fato de grande parte dos diagnósticos de demência serem provocados por acidentes vasculares, que podem ser evitados com uma boa saúde.