Terça-feira, 01 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 30 de março de 2025
Até agora, o STF condenou 503 pessoas pelos atos golpistas e absolveu apenas oito. Ao longo dos últimos dois meses, o portal O Globo analisou os processos abertos na Corte contra os presos pela ofensiva antidemocrática e identificou aspectos até então desconhecidos sobre o episódio. O levantamento mostra, por exemplo, que a maior parte dos acusados tem, no máximo, o Ensino Médio completo e ganha até dois salários mínimos (R$ 3.036) por mês. Além disso, o perfil predominante entre os 1.586 alvos de ações penais no Supremo Tribunal Federal (STF) relacionadas aos atos golpistas são: homem branco, casado, de baixa renda e com menos de 60 anos.
Na semana passada, a Primeira Turma da Corte decidiu por unanimidade tornar o ex-presidente Jair Bolsonaro, o ex-ministro Walter Braga Netto e outros seis integrantes do governo passado réus por envolvimento em uma trama golpista que, segundo a acusação, resultou no 8 de Janeiro.
‘Velhinhas com Bíblia’
O perfil dos condenados foi alvo de discussão durante o julgamento, quando o relator dos casos, o ministro Alexandre de Moraes, apresentou em plenário as imagens em vídeo do vandalismo na Praça dos Três Poderes para rebater argumentos usados pelo ex-presidente e aliados de que os acusados de golpe seriam “velhinhas carregando Bíblias”. Entre os dados apresentados em um telão pelo magistrado estava o fato de que 91% dos condenados têm menos de 59 anos.
— Vou desfazer uma narrativa totalmente inverídica de que o STF estaria condenando “velhinhas com a Bíblia na mão” que estariam “passeando pelo STF, pelo Congresso”. Nada mais mentiroso do que isso — afirmou o ministro.
Os dados compilados pelo portal O Globo apontam que apenas 1,21% dos presos pelos atos golpistas tinha 65 anos ou mais na data dos ataques. A maior parcela dos que estavam na Praça dos Três Poderes ficava na faixa etária de 45 a 54 anos (36,88%).
A análise das ações penais revela ainda que profissionais autônomos respondem pela maior parte (43,2%) dos presos. Além disso, 18,7% declararam estar desempregados, enquanto 11,6% disseram ter um trabalho registrado no regime CLT. Já os aposentados somam 3,3% do total.
O levantamento mostra também que 41% dos presos informaram ter recebido o auxílio emergencial, benefício criado no governo Bolsonaro para a população de baixa renda durante a pandemia de Covid-19. É o caso de Rodismar Regasse Lirio, de 54 anos, morador de Vitória. Condenado a um ano de prisão, Lírio estava desempregado na época do 8 de Janeiro. Em depoimento, admitiu ter invadido o STF, o prédio mais vandalizado naquele dia. Contatada, sua defesa não se manifestou.
Outro aspecto que vem à tona é a origem dos alvos das ações penais. Os dados apontam maior concentração de presos oriundos das regiões Sul e Sudeste, com São Paulo (296 pessoas) e Minas (170) liderando o ranking. Nem todas as ações informam o estado de onde os réus vieram.
Apesar de ser o palco da manifestação, o Distrito Federal figura apenas como o sétimo colocado com maior número de presos: 69 pessoas, em sua maioria moradores de regiões afastadas da área central da capital federal. Um deles é o autônomo João de Oliveira Antunes Neto, de Samambaia, região administrativa de Brasília, distante 33 quilômetros da Praça dos Três Poderes.
Filiados ao PT
O levantamento revela que 210 dos alvos das ações penais têm alguma filiação partidária. A maior parte, 90, eram correligionários de Bolsonaro no PL. Há, contudo, 15 filiados ao PT, partido de Lula, em quem pregavam dar um golpe.
Professora do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB), Débora Messenberg afirma que o perfil dos participantes do 8 de Janeiro é semelhante ao que mostram as pesquisas sobre o eleitorado de Bolsonaro.
— A precarização do trabalho é um dos pilares centrais para o avanço da direita radical no planeta, não só no Brasil. São pessoas que estão em situação de precariedade. Ao mesmo tempo, têm algum nível de escolaridade e não necessariamente estão nessa situação há muito tempo. Vivem um processo de decadência, e isso é um processo bastante mobilizador, de sentimento, de ressentimentos, de alimento do ódio — avalia.
Coordenadora do Observatório da Extrema Direita, a antropóloga Isabela Kalil destaca que o perfil dos presos reforça a hipótese de que Bolsonaro se valeu da pandemia para angariar adeptos a um discurso recheado por teorias da conspiração.
— O medo e a frustração são canalizados para encontrar um culpado: o PT, o Lula — diz Kalil. As informações são do portal O Globo.