Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 26 de março de 2024
As pessoas com a doença veem as outras com a boca esticada, orelhas pontiagudas apontadas para cima.
Foto: ReproduçãoO americano Victor Sharrah, de 58 anos, foi diagnosticado com a “síndrome da face demoníaca”. Também conhecida como prosopometamorfopsia ou PMO (sigla em inglês), a condição altera a percepção visual da pessoa. Assim, fazendo com que ela veja outros com a aparência modificada, incluindo forma, tamanho, textura ou cor.
Ao contrário do que muitos podem pensar, pesquisadores afirmam que as mudanças na percepção visual destes pacientes não está relacionada a crenças delirantes sobre a pessoa encontrada. Sobretudo, o diagnóstico pode ser confundido com esquizofrenia. Mesmo que o gatilho da condição ainda não tenha sido identificado, geralmente é causado por alguma disfunção na rede cerebral responsável pelo processamento facial. É comum que a pessoa tenha passado por traumatismo cranioencefálico, acidente vascular cerebral, epilepsia ou enxaquecas. Enquanto outros apresentam a condição sem alterações estruturais evidentes em seus cérebros.
No caso de Sharrah, especialistas suspeitam que ele desenvolveu o PMO anos depois de bater a cabeça em uma porta emperrada enquanto tentava sair do trailer do caminhão. Entretanto, o motorista também disse que isso poderia ter sido causado por ele ter experimentado um possível envenenamento por monóxido de carbono quatro meses antes.
Três anos depois, o americano disse que ainda vê rostos de demônios e praticamente se acostumou com a condição, mas ainda espera que ela “poderia se corrigir e desaparecer”. Para ajudar, ele usa lentes verdes quando anda em multidões, pois isso supostamente alivia seus sintomas. Os especialistas ainda não têm uma explicação para o fenômeno. A síndrome pode durar apenas alguns dias ou semanas, mas, em alguns casos, as distorções percebidas podem durar anos.
Como a pessoa enxerga?
As pessoas com a doença veem as outras com a boca esticada, orelhas pontiagudas apontadas para cima, os olhos puxados e as narinas dilatadas. Segundo Victor Sharrah, uma das 100 pessoas relatadas no mundo que tem essa condição, as imagens são “grotescas” e a aparência “perturbadora”. Entretanto, a distorção só acontece em pessoas, objetos como móveis, casas e carros são enxergados normalmente.
Em um estudo publicado recentemente na revista científica The Lancet, pesquisadores da Dartmouth College, nos Estados Unidos, criaram ilustrações faciais com base na descrição feita por Victor Sharrah. Para gerar os rostos da forma como ele enxerga, os analistas pediram que ele descrevesse as discrepâncias entre as fotografias dos rostos dos indivíduos e as pessoas reais que estavam à sua frente. Então, foi utilizado um software de edição de imagens para ajustar as ilustrações e alinhá-las com as descrições de Sharrah.
“Através do processo, conseguimos visualizar em tempo real a percepção do paciente sobre as distorções faciais”, diz o principal autor do estudo, Antônio Mello, estudante do Departamento de Ciências Psicológicas e do Cérebro em Dartmouth.