Um dia antes de tentar entregar uma carta para um importante parlamentar japonês se oferecendo para matar centenas de pessoas deficientes, o suspeito do pior assassinato em massa do Japão nas últimas décadas disse pelo Twitter: “Eu não sei se isso é certo, mas ação é o único caminho”.
Menos de seis meses depois, Satoshi Uematsu, de 26 anos, foi preso suspeito de matar 19 pessoas esfaqueadas e ferir outras dezenas enquanto dormiam em um centro para pessoas deficientes onde ele havia trabalhado por mais de três anos até fevereiro.
A polícia ainda não comentou sobre as motivações para o sanguinário episódio dessa terça-feira, o qual abalou um país que tem uma das menores taxas de criminalidade do mundo, e onde assassinatos em série são raros.
Informações sobre Uematsu ainda estão emergindo, mas entrevistas com vizinhos e publicações em sua conta no Twitter mostram um jovem educado que se tornou obcecado com as pessoas sendo tratadas na clínica para deficientes mentais e físicos de Tsukui Yamayuri-En, na cidade de Sagamihara, a cerca de 40 quilômetros a sudeste de Tóquio.
Akihiro Hasegawa, que foi seu vizinho por oito anos, disse não ter notado nada estranho sobre Uematsu.
“Ele sempre sorriu ao me cumprimentar. Ele tinhas bons modos e era educado. Um jovem realmente muito agradável”, disse Hasegawa, de 73 anos, à Reuters.
“Seria mais fácil compreender se houvesse um alerta, mas não houve sinais”, disse Hasegawa, acrescentando acreditar que as experiências de Uematsu no emprego haviam afetado sua mente.
“Nós não conhecíamos a escuridão de seu coração.”
Uma conta de Twitter com o nome de Uematsu, e a qual, segundo a imprensa local, era utilizada pelo suspeito, indicava que ele era um jovem que gostava de se divertir, apreciava karaokê e festas na praia e queria parar de fumar.
“Estou super feliz”, ele tuitou em 29 de junho com fotos do que parecia ser a festa de casamento de um amigo.
Ele também parecia gostar de um jogo de cartas sobre teoria da conspiração, e publicou que havia visto mensagens subliminares nessas cartas, tais como uma previsão do desastre nuclear no Japão, em 2011.
Uematsu havia chamado atenção de autoridades em fevereiro, quando disse que poderia eliminar 470 pessoas deficientes.
“Estou totalmente ciente que esta declaração desafia o senso comum”, disse ele em cartas destinadas ao presidente da Câmara dos Deputados, cujas cópias foram obtidas pela agência de notícias Kyodo.
“No entanto, não posso ficar parado ao pensar sobre o olhar exausto nos rostos de seus cuidadores, o olhar louco nos olhos dos funcionários que trabalham nessas clínicas, e, no melhor interesse do Japão e do mundo, me sinto compelido a tomar esta ação hoje.” (Minami Funakoshi, Linda Sieg, Elaine Lies e Chang-Ran Kim/Reuters)