Sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 19 de fevereiro de 2025
Em julgamento realizado na cidade gaúcha de Alegrete (Fronteira-Oeste), um homem foi condenado a 54 anos de prisão pelo assassinato da companheira, grávida de seis meses. O crime foi cometido em 2021, no apartamento do casal, e também resultou na morte do bebê, uma menina. Conforme o processo, a vítima foi sedada e morta por enforcamento após discussão motivada por dúvidas do homem sobre a paternidade da criança. Ele tinha 21 anos na época, ela 18.
O cumprimento inicial da pena é em regime fechado. De acordo com o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS), a sentença levou em consideração as acusações de homicídio qualificado por quatro agravantes: feminicídio, asfixia mecânica, motivo torpe e recurso que dificultou a defesa da jovem, majorado pelo fato dela ser gestante. Também foi computado o crime de aborto provocado no contexto da violência doméstica.
A promotora de Justiça Rochelle Jelinek, que atua na Comarca, atuou no júri. Ela comenta: “Esse caso teve uma peculiaridade, pois a Polícia Civil concluiu a investigação sem indiciamento, como suicídio. Fui procurada pela família da Dienifer [vítima], em um trabalho de acolhimento pelo Ministério Público”.
Ainda segundo Rochelle, a inconformidade da família motivou o MPRS a assumir a continuidade da investigação, e os celulares do réu e da jovem foram periciados pelo Núcleo de Inteligência do órgão, que também obteve a quebra de sigilo telefônico. Os dados obtidos permitiram constatar que, no momento em que a jovem foi morta, o assassino tinha em sua posse o telefone dela, conectado à rede wi-fi do apartamento do casal, na hora do crime.
“O pai da vítima faleceu de infarto meses após o crime, abalado com o que ocorreu com a filha e a neta”, lamenta a promotora. “Ao menos conseguimos dar essa resposta a família. O julgamento terminou de forma emocionante, com o salão do júri lotado e todos aplaudindo em pé”.
Cena forjada
No texto publicado pelo site mprs.mp.rs não menciona a acusação de que o feminicida simulou o suicídio da companheira. Ele já estava preso desde maio de 2023, dois anos após o inquérito tramitar na Polícia Civil sem que o autor fosse indiciado, fazendo com o que MP-RS assumisse o caso, mudando o rumo da apuração.
O processo detalha que o crime foi cometido após uma discussão na residência do casal. O homem duvidava da paternidade da criança, queria se separar da companheira, de 18 anos, e ir embora da cidade. Em determinado momento, a jovem foi dopada, enforcada com uma corda em nó militar e teve o corpo pendurado pelo pescoço à grade da janela do quarto, a fim de simular a morte autoinfligida.
No mesmo dia ele se hospedou em um hotel de Alegrete, levando consigo o celular da companheira, por meio do qual teria enviado mensagens ao pai da jovem, fingindo ser a companheira. Ele também simulou conversas com a vítima em horário no qual ela já estava morta. Versões contraditórias do investigado também chamaram a atenção durante o interrogatório, bem como o detalha do nó militar utilizado no enforcamento – o acusado era soldado do Exército.
(Marcello Campos)
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