Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Tito Guarniere | 6 de maio de 2023
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Lula com a língua solta é um perigo. Semana passada, ele saiu-se com esta: “Se existe uma profissão honesta é a do político”.
Comecemos pelo fato que político não é uma profissão. Sim, há gente que vive da política, se aposenta na política. Mas a política é “ciência e arte” ao alcance do exercício de profissionais de todas as áreas – eles estão presentes em todos os governos e são membros ativos de todas as câmaras legislativas. Cumprem tarefas específicas de suas profissões e funções amplas de representação social e política. São escolhidos pelo voto popular e universal para o interesse da “res publica”, por prazo determinado. Mas profissão não é, ou se quiserem, não deveria ser.
Lula compara o político com o funcionário concursado: “o político tem de fazer um concurso público a cada quatro anos”. Ou seja, faz uma formidável confusão entre mandato, representação e profissão – equívoco conceitual que esfacela o argumento.
O político, quando se aposenta, ou é mandado de volta para casa pelo distinto público – sua excelência, o eleitor – não se dirá “político”. Se for engenheiro ou advogado assim se apresentará. É verdade que mesmo os políticos que não se elegem, em grande número conseguem se manter na vida pública – há milhares deles em cargos de confiança, nomeados pelo governante do partido ou de força aliada.
O que espanta é a declaração – convenhamos, corajosa – de Lula, que os políticos, dentre as várias profissões, são os mais honestos. Há controvérsias. Se fizerem uma pesquisa para saber qual é a profissão ou a atividade mais desonesta, 11 entre 10 entrevistados apontarão o dedo para os políticos.
Há políticos honestos? Certamente. Mas é o efeito de uma insolação dizer, como Lula, que os homens públicos são os mais honestos.
Os políticos mentem além de qualquer conta para afirmar suas crenças, fustigar os adversários e alcançar seus objetivos. São mestres em inflar seus próprios méritos e em negar e esvaziar os méritos dos oponentes. O mundo das fake news é basicamente o resultado dos confrontos da política. A campanha eleitoral é uma algaravia de mentiras, a começar pelas promessas que todos os candidatos se esmeram em fazer.
É mais ou menos assim na vida comum, no mundo dos negócios, nos conflitos acadêmicos, nos ambientes de trabalho. O que ocorre com os políticos é que eles lavam a roupa suja em público. Somos a grande plateia desse embate vertiginoso, nada elegante, crivado de baixarias e falsidades. Somos testemunhas vivas de que todos mentem e mentem o tempo todo. A verdade, na guerra como na política, é a primeira vítima.
Ao fim e ao cabo, todos os defeitos e malfeitos dos políticos, os reais e imaginários, elevados à enésima potência, são expostos à saga de um eleitorado que já perdeu a paciência faz muito tempo. Nenhuma outra profissão ou atividade é tão exposta. Como todos falam cobras e lagartos uns dos outros, somos levados a pensar que naquele mundo singular, à sombra das disputas do poder, não sobra ninguém honesto.
Eles até podem não ser os mais desonestos, mas os mais honestos é que não são.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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