O Hospital Albert Einstein, em São Paulo, anunciou um estudo com derivado de cannabis para tratamento de enxaqueca crônica (aquela que ocorre por mais de quinze dias no período de três meses, para ficar em um dos exemplos de suas características). As análises serão realizadas ao longo de todo este ano e a expectativa é que todos os pacientes envolvidos na pesquisa já tenham concluído o uso do medicamento no início do ano que vem.
Os 110 participantes aprovados para o estudo, focado em comprovar a eficácia e a dosagem do fármaco, serão acompanhados ao longo de 16 semanas, sendo as quatro primeiras dedicadas a observar as características das dores de cabeça. A ideia é que o tratamento seja utilizado como um auxiliar aos medicamentos comuns aos cuidados com a enxaqueca. Por isso, os especialistas optam pelo recrutamento (ainda aberto) de pessoas que utilizam remédios para controlar as dores, mas ainda assim sofrem de crises.
O medicamento de nome Camtrea será testado ao lado do uso de um fármaco placebo (inócuo). A novidade leva em sua composição o cannabidiol, canabigerol e THC. Em óleo, o fármaco é de aplicação embaixo da língua, duas vezes ao dia.
“O medicamento age nos receptores canabinoides (parte do nosso organismo) que ajudam a modular a dor, entre outros receptores”, explica Alexandre Kaup, neurologista do Einstein e líder do estudo. “O paciente tomará o medicamento, ou placebo, ao longo de doze semanas. Vamos observar se quem receber a substância ativa se sairá melhor. Estamos monitorando sono, sintomas ansiosos e depressivos, a quantidade de analgésico que esses pacientes usam e a características de cada crise, se diminuíram. Vamos avaliar isso para cada pessoa individualmente ao longo de todos os dias.”
Curso
Nesta semana, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sancionou uma lei que insere os medicamentos à base de canabidiol (CBD), substância derivada da planta cannabis, no Sistema Único de Saúde (SUS) no estado, além dos feitos com THC, outra substância da planta da maconha, em casos excepcionais.
Com a liberação, a Dr. Cannabis, plataforma educacional da empresa de cannabis medicinal Cannect, passou a oferecer um curso gratuito destinado aos profissionais de saúde da rede pública sobre a prescrição da substância e em quais casos ela é indicada.
“É essencial que os profissionais entendam as reais aplicações da terapêutica, quais pacientes podem ser beneficiados, qual a combinação da medicação e a dosagem mais indicada para cada paciente, já que a cannabis medicinal não é indicada para todos os casos e precisa ser prescrita por profissional qualificado e especialista no assunto, baseado nas recomendações descritas em literatura científica”, afirma Allan Paiotti, CEO da Cannect, em comunicado.
A legislação paulista, que ainda precisa ser regulamentada e tem um prazo de 90 dias para entrar em vigor após a publicação no Diário Oficial, não é a primeira do Brasil a incluir a cannabis medicinal na rede pública de saúde. No entanto, leis do tipo estão presentes em poucos locais e ainda não funcionando de forma plena, o que reforça o desconhecimento dos profissionais em relação à prescrição dos produtos de cannabis.
A cannabis medicinal foi autorizada no país em 2015, quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) retirou o CBD da lista de substâncias proibidas e deu o aval para a importação de uma lista restrita de produtos – a agência não os classifica formalmente como medicamentos, embora o uso seja terapêutico. Em 2016, o mesmo ocorreu para aqueles baseados no THC. Desde então, a lista tem crescido e já ultrapassa 15 alternativas.
Esses remédios podem ser importados e comercializados em farmácias e drogarias no Brasil. Por vir de fora, no entanto, os preços costumam ser elevados, o que dificulta o acesso por famílias de baixa renda e aumenta a pressão para inclusão no SUS. São utilizados para tratar epilepsia, autismo, síndromes raras, entre outras doenças.