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Imagem de galã de Hugh Grant passa a conviver com galeria de malfeitores e vigaristas

Ator vive vilão que testa a fé de duas missionárias mórmons, que batem na porta da sua casa. (Foto: Divulgação)

Hugh Grant tem certos problemas com sua imagem desde 1994, quando sua atuação em “Quatro casamentos e um funeral” o estabeleceu como um herói romântico essencialmente britânico, de charme e timidez conquistadores. Mas sua recente série de personagens estranhos e às vezes assustadores joga tão eficazmente contra o tipo que você começa a suspeitar que estava enganado sobre ele o tempo todo. E o ator seria o primeiro a dizer que algo mais sombrio e complicado se esconde sob sua superfície fácil.

“Na escola eu tinha um professor que me chamava de lado e dizia: ‘Quem é o verdadeiro Hugh Grant? Porque acho que aquele que estamos vendo pode não ser sincero’”, disse Grant enquanto passeava pelo Central Park, em Nova York, no mês passado. Ele estava se comparando ao Sr. Reed, o vilão carismaticamente articulado que interpreta em “Herege”, um filme de terror religioso que estreia nos cinemas brasileiros em 20 de novembro.

Aos 64 anos, Grant está aproveitando o que chama de “a era do show de horrores” de sua carreira, interpretando uma improvável galeria de malfeitores (“The undoing”, “A very English scandal”), gângsteres decadentes (“Magnatas do crime”), trapaceiros sedentos de poder (“Dungeons & Dragons: honra entre rebeldes”) e atores iludidos (“As aventuras Paddington 2” e “A batalha das Pop-Tarts”), sem mencionar o pequeno e arrogante Oompa-Loompa em “Wonka”. Aquela versão inicial de si mesmo, envergonhada, de cabelos desgrenhados e benigna… nunca foi quem ele foi, diz o ator.

“Meu erro foi que de repente obtive esse enorme sucesso com Quatro casamentos e pensei, ah, bem, se é isso que as pessoas amam tanto, serei essa pessoa na vida real também. Então, eu costumava dar entrevistas em que era o Sr. Stuttery Blinky, e é minha culpa ter sido empurrado para uma caixa marcada como Sr. Stuttery Blinky. E as pessoas, com razão, repudiaram isso”, disse ele.

Grant cresceu no que chamou de “pobreza elegante” em Londres, onde seu pai trabalhava no ramo de tapetes. Ele ganhou uma bolsa de estudos para Oxford, mas começou a atuar. E sempre exalou ambivalência em relação ao trabalho.

O ator não ama a máquina de Hollywood. Embora seja hilário em entrevistas (e deliciosamente atrevido na TV britânica), sua inteligência irônica e afetações podem colocá-lo em apuros. Depois de uma onda de entusiasmo anódino de seus colegas de “Wonka” em entrevista coletiva no ano passado, Grant confundiu tudo ao declarar que “eu não poderia ter odiado mais a coisa toda”. (Fora do contexto, isso parece terrível. Mas esse tipo de humor é normal na Grã-Bretanha).

Grant leva seu trabalho totalmente a sério. Para se preparar para os papéis, ele escreve histórias elaboradas para seus personagens e irrita os diretores com perguntas e notas em longas trocas de e-mail.

Entre os atores, ele tem reputação de ser rigoroso.

“Essa coisa de ‘não gosto de atuar e gostaria de poder ser contador’ é uma bobagem”,  disse o ator britânico Hugh Bonneville, também conhecido como Lord Grantham de “Downton Abbey”, que apareceu com Grant em “Um lugar chamado Notting Hill” (1999) e em “Paddington 2” (2018). “Ele pode fingir desinteresse pela profissão e minimizar suas próprias habilidades, mas é um grande talento que trabalha duro no set”.

Bonneville relembrou a bravura de Grant nos créditos finais de “Paddington 2”, uma extravagância musical que foi filmada no primeiro dia e apresenta Grant vestido com uma roupa atrevida de calças flare deslumbrantes. (Ele interpreta Phoenix Buchanan, um ator desleixado e presunçoso no que é amplamente considerado um de seus melhores papéis.)

Os aficionados de Grant podem se lembrar do videoclipe falso do ator no estilo Wham! na comédia romântica “Letra e música” de 2007 e sua pequena dança Oompa-Loompa em “Wonka”. Em um momento particularmente arrepiante em “Herege”, ele canta um trecho de “Creep”, do Radiohead.

Sua abordagem geralmente inclui improvisações. As falas picantes proferidas por seu personagem, Daniel Cleaver, enquanto ele seduz Bridget (Renée Zellweger) em “O diário de Bridget Jones” (2001), foram todas ideia de Grant.

Definitivamente, há pedaços de Cleaver, o namorado tóxico, mas inebriante, que deixou todo mundo louco na casa dos 20 anos, em Grant também. Questionado em entrevista em vídeo qual versão estava mais próxima da realidade — o simpático Hugh pessoalmente ou o perverso Daniel na tela — Zellweger riu.

“Temos que escolher? Não podemos ter todos eles? Existem tantos Hughs, e seu palpite é tão bom quanto o meu. Qualquer um que ele queira ser”, ela disse.

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