Após um esforço de quase quatro décadas, cientistas do Centro para Microscopia In Vivo da Universidade Duke, nos Estados Unidos, divulgaram as imagens mais nítidas já realizadas de um cérebro, com uma resolução até 64 milhões de vezes melhor do que as técnicas de ressonância magnética cerebral utilizadas hoje na prática clínica.
No novo estudo, publicado ontem na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, os pesquisadores focaram em cérebros de camundongos, porém destacam que a nova maneira de visualizar as conectividades no órgão do animal levará a melhores entendimentos sobre mudanças cerebrais também em humanos, como as que ocorrem com o envelhecimento, com alterações na alimentação e com doenças neurológicas, como o Alzheimer.
“É algo verdadeiramente capacitador. Podemos começar a olhar para as doenças neurodegenerativas de uma maneira totalmente diferente”, afirma G. Allan Johnson, principal autor do estudo e professor de radiologia, física e engenharia biomédica da Duke, em comunicado.
O trabalho contou ainda com cientistas de outras instituições renomadas dos Estados Unidos, como o Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Tennessee, a Universidade da Pensilvânia, a Universidade de Pittsburgh e a Universidade de Indiana.
Durante as quatro décadas em que trabalharam na técnica que amplia a nitidez das imagens, os pesquisadores incorporaram diferentes tecnologias para atingir o resultado. Algumas das principais que permitiram o feito foram um ímã mais potente. Enquanto a maioria das ressonâncias magnéticas clínicas depende de um ímã de 1,5 a 3 tesla (unidade usada para densidade de fluxo magnético), os cientistas utilizaram um aparelho de 9,4 tesla.
Além disso, a nova técnica contou com um conjunto especial de bobinas de gradiente (componentes eletromagnéticos) que são 100 vezes mais fortes do que as de um exame clínico, além de um computador de alto desempenho equivalente a quase 800 laptops para gerar a imagem de apenas um cérebro.
Investigação de doenças
Os pesquisadores utilizam ainda uma técnica diferente chamada microscopia de folha de luz, que permite rotular grupos específicos de células no cérebro, como células emissoras de dopamina, para observar a progressão da doença de Parkinson, por exemplo.
Com isso, conseguem uma visão melhor das células cerebrais, “muito mais precisa anatomicamente e (que) fornece uma visão vívida das células e circuitos em todo o cérebro”, diz a equipe em comunicado. Assim, eles afirmam ser possível analisar em detalhes partes do cérebro de “maneiras nunca antes possíveis”.
Eles coletaram no experimento um conjunto de imagens que mostra como essa conectividade se altera à medida que os camundongos envelheceram, assim como regiões específicas como a ligada à memória, que passou por mais mudanças no período. Em outro animal, com uma simulação da doença de Alzheimer, eles observaram como se comportaram as redes neurais com o avanço do diagnóstico.
“Pesquisas apoiadas pelo Instituto Nacional do Envelhecimento descobriram que intervenções dietéticas e medicamentosas modestas podem levar os animais a viver 25% mais”, disse Johnson. “Então, a questão é: o cérebro deles ainda está intacto durante essa vida útil prolongada? Eles ainda poderiam fazer palavras cruzadas? Eles serão capazes de fazer Sudoku mesmo vivendo 25% mais? E nós temos a capacidade agora de olhar para isso. E ao fazermos isso, podemos traduzir isso diretamente na condição humana”.