Um vídeo apresentado como prova pela Operação Lava-Jato do Rio de Janeiro mostra o encontro do delator Ricardo Siqueira Rodrigues com o servidor da Receita Federal Marcial Pereira de Souza, preso suspeito de integrar um grupo que extorquia réus da força-tarefa.
O grupo descobria quanto os réus deviam em multas para a Receita após as revelações feitas pela Lava-Jato e, em vez de cobrá-las, sugeriam o pagamento de vantagem indevida. Nesta quarta-feira (02), 12 integrantes do bando foram presos.
O vídeo mostra a reunião em que Marcial negociou o valor da propina, após pedir €750 mil. As imagens foram feitas no dia entre os dias 9 e 21 de novembro do ano passado e disponibilizadas por Ricardo, que é dono do restaurante onde a reunião foi realizada.
Colaborador da Lava-Jato após ser acusado na Operação Rizoma por tráfico de influência e lavagem de dinheiro, Ricardo Siqueira disse “que na reunião do dia 09/11/18 foi feita nova cobrança dos valores de propina não pagos”.
O valor de vantagem indevida foi acertado já com o consentimento do MPF (Ministério Público Federal), que já investigava o caso por meio de uma “ação controlada”. Desta forma, o MPF rastreou a organização criminosa permitindo o pagamento de propina no exterior de €50 mil. O pagamento foi feito em uma conta em Portugal que identificou o titular Marcial e sua esposa, Monica da Costa Monteiro Souza.
O chefe do esquema é Marco Aurelio Canal, supervisor de Programação da Receita. A suspeita é que Canal, que tinha acesso a detalhes dos investigados, usava os dados para lhes extorquir dinheiro – em troca de redução ou cancelamento de multas. Tacio Muzzi, superintendente regional da PF (Polícia Federal), diz que os presos não participavam diretamente da força-tarefa. O grupo criminoso, segundo ele, se aproveitou das revelações da Lava-Jato.
“Um ponto relevantíssimo: os servidores públicos investigados e presos na data de hoje da Receita Federal não atuavam diretamente na força-tarefa da Lava-Jato. Esses servidores que foram presos atuavam num momento posterior, estritamente tributário, a partir dos meios de prova colhidos pela Lava-Jato”, disse Tacio Muzzi.
A defesa de José Carlos Lavouras diz que “as acusações são irreais, sem provas e baseadas em mentiras de um delator que busca reduzir o peso da lei sobre seus atos”. A defesa acrescenta, ainda, que José Carlos Lavouras está afastado da gestão de suas empresas desde 2017.
A defesa de Quaresma declara que seu cliente é “reconhecidamente um auditor fiscal sério e correto, que está absolutamente tranquilo, que prestou depoimento e, assim, pôde esclarecer que nada tem a ver com os fatos investigados, razão pela qual tem certeza de que a Justiça restabelecerá sua liberdade”.