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Impasse sobre guerra tensiona cúpula do G20, que ficará sob liderança brasileira no ano que vem

Brasil vai propor que as regras para um comércio mais sustentável sejam transparentes. (Foto: Reprodução)

Um fantasma ronda a cúpula de líderes do G20, prevista para ocorrer na Índia em setembro, e tem deixado seus organizadores em estado de tensão: a presença do presidente russo, Vladimir Putin.

A pouco mais de um mês do encontro, já estão em andamento intensas discussões nos bastidores sobre os termos referentes à guerra na Ucrânia na declaração final do G20, com impasse entre os países.

O assunto interessa diretamente o Brasil, que exercerá em 2024 a presidência rotativa do bloco, composto pelas 20 maiores economias do planeta.

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teme herdar polêmicas do G20 sobre Putin e torce por uma definição rápida sobre o tratamento do bloco às questões da guerra.

Assim, seria possível “limpar” a agenda e concentrar o foco da presidência brasileira em temas que são considerados prioritários para Brasília na condução do G20, como o combate à insegurança alimentar e o desenvolvimento sustentável, além da reforma do sistema multilateral.

Segundo relatos feitos, os indianos trabalham com a possibilidade de ida do presidente russo a Nova Délhi e não têm ideia do que fazer para evitar constrangimentos.

Diferentemente da África do Sul, que vai sediar a cúpula dos Brics em agosto, a Índia não é signatária do TPI (Tribunal Penal Internacional). Por isso, Putin não corre risco de prisão ao participar do encontro em Nova Délhi e já enviou sinais de que pretende ir.

A tendência é que líderes como o americano Joe Biden, o francês Emmanuel Macron e o alemão Olaf Scholz se recusem a dividir o mesmo recinto com Putin. A tradicional foto da “família G20” ao término da cúpula, então, estaria completamente descartada diante da eventual presença do russo.

O problema é que, dentro do bloco, um consenso está longe de ser alcançado. A própria Índia tem adotado postura de se abster na votação de resoluções da ONU (Organização das Nações Unidas) que condenam a invasão à Ucrânia e tornou-se uma das fiadoras econômicas de Moscou, ao importar quantidades cada vez maiores de petróleo e carvão russos que países do Ocidente pararam de comprar.

A China também se coloca ao lado da Rússia na recusa da repetição dos termos adotados no comunicado final do G20 em novembro de 2022, na cúpula realizada na Indonésia, quando os líderes apontaram a necessidade de “defender o direito internacional” e destacaram o “imenso sofrimentos humano” provocado pela guerra.

Embora a declaração tenha destacado a existência de “outros pontos de vista” entre os líderes do G20, foi esse o tom que prevaleceu.

Na ocasião, a Rússia foi representada pelo chanceler Serguei Lavrov, que deixou o encontro no momento em que o primeiro-ministro ucraniano Volodymyr Zelensky começou a discursar por videoconferência. A participantes, Lavrov disse ter sido surpreendido pela realização do discurso.

O governo Lula quer que o impasse se resolva até a cúpula de Nova Délhi e não seja herdado pela presidência brasileira do G20. Na avaliação de fontes em Brasília, se houver um prolongamento das divergências, o risco é gastar tempo e energia dos países-membros ao longo de 2024 — em vez de investir esforço em iniciativas de maior interesse do Brasil.

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