Segunda-feira, 03 de março de 2025
Por Redação O Sul | 3 de março de 2025
O longa superou o temido "Emília Pérez", que era previsto como o vencedor, apesar das polêmicas.
Foto: ReproduçãoO Brasil conquistou uma vitória inédita no Oscar. “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, ganhou na categoria de Melhor Filme Internacional. A primeira estatueta que o País leva pra casa está repercutindo em todo o planeta. Para a imprensa internacional, o longa superou o temido “Emília Pérez”, que era previsto como o vencedor, apesar das polêmicas.
Conforme a revista Vanity Fair, já há alguns meses a conclusão era que o filme francês, o mais indicado do Oscar, levasse o prêmio de Melhor Filme Internacional, visto que já tinha levado o Globo de Ouro e o Bafta na categoria, mas foi ofuscado por tantas polêmicas.
“Enquanto isso, Ainda Estou Aqui provou ser durante toda a temporada um pequeno filme que conseguiria. Feito por menos de US$ 1,5 milhão, o emocionante filme biográfico da ativista progressista Eunice Paiva (interpretada pela indicada ao Oscar Fernanda Torres) arrecadou uma impressionante bilheteria global de mais de US$ 27 milhões, nas costas do entusiasmo orgânico da mídia social que se espalhou pelo mundo”, destacou.
A Variety, que passou toda a temporada incentivando o filme, declarou a vitória brasileira como “surpresa”.
“Dada as 13 indicações que Emília Pérez teve sobre as três indicações de Ainda Estou Aqui, parecia estatisticamente provável que a primeira levasse a estatueta de Melhor Filme Internacional, mas para a alegria do Brasil, Ainda Estou Aqui prevaleceu”, escreveu.
A revista americana People também destacou em manchete de uma reportagem a vitória do filme brasileiro como surpresa: “O brasileiro ‘Ainda Estou Aqui’ supera o francês’ Emilia Pérez’ e ganha o prêmio de Melhor Filme Internacional no Oscar 2025”.
Já sobre “Emilia Pérez”, a People escreveu:
“‘Emilia Pérez’ chegou com estardalhaço ao Oscar deste ano carregando 13 indicações no total, o que foi o maior número entre todos os filmes indicados este ano. A produção francesa também ganhou a distinção de filme de língua não inglesa mais indicado na história do Oscar, com sua enorme dúzia de indicações”, escreve a revista.
“A campanha de premiação do filme foi alvo de intenso escrutínio em janeiro e fevereiro, depois que jornalistas descobriram as polêmicas postagens de Gascón nas redes sociais, levando a atriz a não comparecer a outras grandes premiações nas quais foi indicada antes do Oscar.”
A Hollywood Reporter, outra publicação especializada em entretenimento, destacou a “noite encantadora” de Fernanda Torres no Oscar.
“Torres não levou para casa o Oscar de melhor atriz, embora ‘Ainda Estou Aqui’ tenha ganhado na categoria de melhor longa-metragem internacional. No tapete antes da cerimônia, ela deslumbrou em um vestido Chanel, consolidando sua qualidade de estrela na grande noite.”
A Hollywood Reporter afirmou que Fernanda Torres era considerada um azarão na disputa do Oscar de Melhor Atriz.
“Mas, de muitas maneiras, Torres e seus colaboradores em ‘Ainda Estou Aqui’ já haviam conquistado um prêmio muito maior, já que o filme, um sucesso de bilheteria no Brasil e baseado em uma dolorosa história real, provocou um acerto de contas nacional com o passado autoritário e o presente próximo do país.”
O “Hollywood Reporter” também destacou o discurso de Walter Salles na premiação.
“O diretor Walter Salles deu créditos à mulher que inspirou o filme — Eunice Paiva — e às mulheres que lhe deram vida, a dupla de filhas e mãe Fernanda Torres e Fernanda Montenegro.”
Os jornais “Guardian” e “New York Times” também destacaram a homenagem de Walter Salles a Eunice Paiva, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro.
“Dirigido por Walter Salles, o filme foi um sucesso de bilheteria no Brasil, onde muitos lembram do legado da ditadura militar, que durou de 1964 a 1985”, escreveu o “New York Times”.
A agência de notícias Associated Press (AP) distribuiu um texto com a repercussão do prêmio no Brasil. A AP destacou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou que esse era um momento para se ter ainda mais orgulho de ser brasileiro, e que no Sambódromo do Rio de Janeiro, onde acontecem os desfiles de Carnaval, “o locutor compartilhou os resultados com dezenas de milhares de espectadores na multidão, arrancando gritos de alegria”.
A revista “Time” destacou o Oscar para o filme brasileiro em um artigo que lista vários fatos inéditos da premiação de 2025 — como o filme “Flow”, que foi o primeiro filme da Letônia a ganhar um Oscar, ou a atriz Zoe Saldaña, que foi a primeira atriz de origem dominicana premiada.
Antes da premiação, o jornal britânico Guardian também destacou em um artigo escrito por seu correspondente no Brasil: “Por que ‘Ainda Estou Aqui’ deveria ganhar o Oscar de melhor filme”.
“O retrato íntimo de Salles sobre as consequências emocionais da insanidade tem ecos assustadores nas manchetes de hoje, enquanto homens venezuelanos são levados para a Baía de Guantánamo para agradar a base eleitoral de Donald Trump, e as tropas de Vladimir Putin destroem as vidas de inúmeras famílias na Ucrânia”, afirma o artigo.
“‘Ainda Estou Aqui’ é um filme para os tempos cruéis e inquietantes que mais uma vez varrem o globo. Se algum filme merece o Oscar de 2025, é este.”
Já o jornal “New York Times” havia destacado antes da premiação que esta seria a oportunidade para a cultura brasileira ser reconhecida internacionalmente, depois de ser ignorada por tanto tempo.
“Torres já era muito famosa no Brasil, mas agora ela se tornou a estrela nacional do momento por alcançar algo que há muito tempo não era atingido pela maioria de seus pares e antecessores aqui: reconhecimento internacional”, escreve o jornal.
“Por gerações, o Brasil deu origem a uma vasta e vibrante tapeçaria de arte, música, literatura e cinema — alguns deles magistrais e muitos deles profundamente originais — que foram amplamente celebrados dentro desta imensa nação e pouco conhecidos fora dela.”
Além de Melhor Filme Internacional, o Brasil concorria em outras duas categorias, mas ficou com um único prêmio. A estatueta de Melhor Filme ficou com Anora, e Fernanda Torres perdeu o prêmio de Melhor Atriz para Mikey Madison, a protagonista de Anora.