Quarta-feira, 04 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 18 de janeiro de 2024
Os deputados federais bolsonaristas André Fernandes (PL-CE), Clarissa Tércio (PP-PE) e Silvia Waiãpi (PL-AP) são investigados em inquérito da Procuradoria-Geral da República (PGR) por incitarem os atos golpistas de 8 de janeiro. Os pedidos de abertura de inquérito, feitos em janeiro de 2023, indicavam que postagens feitas por eles em redes sociais, antes e durante as invasões, poderiam se configurar como incitação pública à prática de crime e ataque à democracia.
Em um impasse há meses, a Polícia Federal (PF) considerou que houve crime, mas a PGR discordou e pediu arquivamento. Os três parlamentares negam as acusações.
André Fernandes
André Fernandes foi o deputado federal mais votado do Ceará nas eleições de 2022. Em 2018, ainda com 20 anos, ele iniciou sua carreira política na esteira do bolsonarismo como o deputado estadual com mais votos no estado, se tornando também o mais novo no cargo. Desde então, o apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro reúne diversas representações contra o seu mandato, com acusações de calúnia, injúria e propagação de informação falsa.
Em 2019, o então governador do Ceará Camilo Santana entrou com uma representação criminal contra o deputado, sob acusação de calúnia, difamação e injúria, mencionando o uso de suas redes sociais para propagação de notícias falsas. Já em 2020, o Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará acionou o Ministério Público para investigar possíveis irregularidades em publicações de Fernandes, que divulgava informações falsas sobre a pandemia de covid.
Também em 2020, o deputado foi suspenso de seu mandato por 30 dias por quebra de decoro parlamentar, após acusar, sem provas, o colega Nezinho Farias (PDT) de participar de facção criminosa. No ano seguinte, foi condenado a pagar indenização de R$ 50 mil à jornalista da Folha de S. Paulo, Patrícia Campos Mello, depois de publicar ataques machistas em seu Twitter.
Ainda em 2021, foi alvo de ação do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) por suposta prática de nepotismo. As investigações apontavam que ele teria indicado dois parentes para cargos no seu gabinete na Assembleia Legislativa. No começo de 2022, outra investigação conduzida pelo MPCE revelou uma denúncia que o deputado estaria mantendo uma funcionária fantasma.
Desde 2023, Fernandes é investigado por vídeos que publicou em seu Twitter convocando “ato contra o governo Lula”, e afirmado que estaria presente. Após as invasões, ele ainda postou a imagem da porta de um armário do STF depredado, com o nome do ministro Alexandre de Moraes, com a legenda: “Quem rir vai preso”.
Clarissa Tércio
Clarissa Tércio estreou na política como deputada estadual pelo PSC em 2018, ao lado de seu marido Pastor Junior Tércio (PP-PE), o deputado mais votado no estado naquela eleição. Natural do Recife, a parlamentar é apoiadora fiel de Bolsonaro e usa o sobrenome do pai, o pastor Francisco Tércio, presidente da Assembleia de Deus Novas de Paz, igreja presente em diversas cidades de Pernambuco.
Em agosto de 2020, Clarissa ficou conhecida nacionalmente por ser uma das líderes do grupo que se aglomerou em frente a um hospital em Recife (PE) para impedir o aborto legal de uma menina de 10 anos, que havia engravidado após ter sido estuprada. No mesmo ano, a deputada foi condenada pela Justiça a pagar R$ 10 mil por transfobia e uso indevido de imagem ao expor o casal transexual Rodrigo Brayan da Silva e Ellen Carine Martins nas redes sociais.
Durante a pandemia, a deputada, assim como o ex-presidente, fez publicações contra a vacina e defendendo o uso da cloroquina no tratamento da covid, mesmo com a ineficácia comprovada cientificamente. Após as eleições de 2023, ela começou usar suas redes sociais para fomentar a expectativa de uma ação das Forças Armadas contra o governo do presidente eleito, disseminando desinformação sobre o papel o STF.
Desde janeiro do ano passado, a deputada Clarissa Tércio está sendo investigada por uma postagem no Instagram feita no dia 8 em que diz: “Acabamos de tomar o poder. Estamos dentro do Congresso. Todo povo está aqui em cima. Isso vai ficar para a história, a história dos meus netos, dos meus bisnetos”.
Silvia Waiãpi
Eleita deputada federal pelo Amapá nas eleições de 2022, Sílvia Waiãpi foi a primeira mulher indígena a entrar para o Exército Brasileiro, em 2011. Em 2018, foi uma das quatro mulheres integrantes do grupo de transição de Bolsonaro, e posteriormente, ocupou cargo no Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR), órgão vinculado ao antigo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, que tinha como liderança a ex-ministra Damares Alves.
Em 2022, foi a deputada federal eleita menos votada no Brasil, com 5.435 votos, com apoio de políticos bolsonaristas, como Eduardo Bolsonaro, Damares Alves e Carla Zambelli.
De acordo com o STF, a deputada é investigada por postar vídeos dos atos de 8 de janeiro com a legenda: “Povo toma a Esplanada dos Ministérios nesse domingo! Tomada de poder pelo povo brasileiro insatisfeito com o governo vermelho”.