Uma cartilha elaborada pelo governo da Índia está causando polêmica entre as grávidas do país. O documento propõe uma série de restrições às mulheres, como não comer carne, não ter relações sexuais e ainda evitar “más companhias”.
O panfleto, chamado “Cuidados da mãe e da criança”, foi preparado às vésperas do Dia Internacional da Yoga, celebrado na quarta-feira (21), pelo ministério Ayush, que promove o uso de terapias alternativas.
O documento está recheado de dogmas religiosos e ignora evidências científicas amplamente aceitas sobre os benefícios de dietas ricas em proteínas e a segurança das relações sexuais durante a gravidez. Para a comunidade médica, os conselhos são absurdos, e até mesmo perigosos, considerando que o país tem um dos piores índices de saúde maternal.
“O governo está distribuindo conselhos irracionais e não científicos, em vez de garantir que as mulheres grávidas tenham acesso a uma dieta nutritiva e rica em proteínas”, declarou o ginecologista Arun Gadre, que atende gestantes em zonas rurais da cidade de Pune, em entrevista à Associated Press.
Questionado pela imprensa, o ministro Shripad Naik afirmou que “o manual é velho, tem três anos e não contém nenhum conselho para se abster de sexo”. No entanto, na página 14 do manual é possível encontrar uma recomendação para todas as grávidas “ficarem longe de desejo, raiva e ódio”.
O ministério Ayush defendeu o livreto, dizendo que ele contém “conhecimento acumulado ao longo de muitos séculos”, e ressaltou que ele não faz recomendações específicas contra o sexo, apenas contra pensamentos de desejo e luxúria. De acordo com o ginecologista Malavika Sabharwal, do Apollo Healthcare Group, “este conselho é anticientífico. A deficiência de proteína, desnutrição e anemia são fortes preocupações para as mulheres grávidas e as carnes são uma importante fonte de proteínas e de ferro”.
A Índia é um dos países com maior índice de mortalidade materna do mundo devido a diversos casos de anemia, desnutrição e deficiência de ferro. Em 2015, 174 de cada 100 mil grávidas morreram ao dar à luz.