Alvo de reclamação do coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, indicados pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, ao conselho de administração da Petrobras têm ligação com os governos dos ex-presidentes Jair Bolsonaro e Michel Temer.
Bacelar se queixou dos nomes à presidente do PT, Gleisi Hoffmann, em mensagem de WhatsApp. Nela, o sindicalista tratou os nomes como “perigosas indicações” e disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva iria perder “o controle do CA (conselho de administração) da Petrobras” caso elas fossem referendadas. Ele pediu à deputada que marcasse uma reunião com o presidente para discutir o assunto.
A Petrobras informou na terça-feira ter recebido ofício do Ministério de Minas e Energia com as oito indicações para o conselho. Os nomes serão submetidos à votação da assembleia-geral ordinária (AGO), que deverá ocorrer na segunda quinzena de abril. Petistas dizem que metade dos nomes da lista ligados aos ex-presidentes desafetos do PT, ao mercado financeiro e a favor de uma agenda liberal da economia, como as privatizações.
Quem são
Um deles é Pietro Adamo Sampaio Mendes, sugerido para a presidência do conselho. Ele é funcionário de carreira da Agência Nacional de Petróleo (ANP) e atuou como secretário adjunto do ex-ministro bolsonarista Adolfo Sachsida.
Suas redes sociais acumulam elogios ao trabalho do almirante Bento Albuquerque, ex-ministro de Minas e Energia de Bolsonaro, e curtidas em publicações de feitos do governo passado.
Outro indicado alvo de queixa do sindicalista entrou na mira é Carlos Eduardo Turchetto Santos. Ele atua no setor do agronegócio, com açúcar e álcool. O empresário doou R$ 100 mil à campanha para governador de Minas Gerais do bolsonarista Romeu Zema (Novo), em 2018.
Vitor Eduardo de Almeida Saback, por sua vez, é diretor da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e exassessor do ministro da Economia Paulo Guedes. Ele é ligado ao senadores Davi Alcolumbre e Rogério Marinho, que também foi ministro de Jair Bolsonaro. Saback já defendeu publicamente o livre mercado, tema controverso no PT, e acumula condecorações de Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, e das Forças Armadas.
Já Eugênio Tiago Chagas Cordeiro e Teixeira foi sócio do exsenador Clésio Andrade, que foi filiado ao MDB de Temer.
Obstáculos
Na avaliação de Bacelar, se aprovado, o novo conselho de administração da estatal, vai criar obstáculos para o cumprimento de programa de governo do presidente Lula, que inclui mudanças na política de preços de combustíveis, na sistemática de dividendos da estatal e é contra as privatizações na companhia.
Na mensagem encaminhada à Gleisi e flagrada pelo Estadão, o coordenador-geral da FUP afirmou que Lula não terá controle do conselho.
A batalha ideológica tem travado também a nomeação do secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, o número dois da pasta. O cargo está vago há dois meses.
O ministro quer emplacar Bruno Eustáquio, que atuou da venda de alguns ativos Petrobras. O preferido de Silveira também foi secretário dos ministérios de Minas e Energia e da Infraestrutura no governo Bolsonaro. Eustáquio também atuou no Programa de Parcerias de Investimento (PPI) da Presidência da República. A indicação dele foi vetada pela Casa Civil.