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Indigenista desaparecido alertou para risco de vida e disse que reunião em comunidade poderia “dar em algum problema”

O indigenista Bruno Araújo Pereira (C) enviou mensagem ao procurador jurídico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari. (Foto: Divulgação/Funai)

O indigenista Bruno Pereira enviou uma mensagem ao procurador jurídico da Unijava (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari), Eliésio Marubo, para alertar que corria risco de vida. A conversa foi relatada pelo advogado em depoimento à Polícia Federal. Trecho do interrogatório consta no relatório da PF (Polícia Federal) enviado ao ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF). Na última sexta-feira, Barroso determinou que a União e suas entidades e órgãos adotem providências necessárias para a localização de Bruno e do jornalista inglês Dom Phillips. A dupla foi vista pela última vez em 5 de junho.

Bruno se referia a um encontro que teria com um homem identificado como “Churrasco”, na comunidade São Gabriel. De acordo com o depoimento, o indigenista disse que a reunião poderia “dar em algum problema”. O encontro entre os dois não chegou a acontecer. A mensagem foi enviada no último dia 31 de maio e a reunião estava marcada para o dia 5 de junho.

Conforme o depoimento de Marubo, Bruno e Dom estavam utilizando uma embarcação emprestada pela Univaja, carregavam uma arma de fogo e não possuíam aparelho SPOT de geolocalização, mas apenas aparelhos celulares utilizados para registros e função GPS.

A investigação policial indica que o desaparecimento pode ter ocorrido entre as comunidades São Gabriel e Cachoeira, entre 7h e 9h de domingo.

À PF, uma testemunha relatou ter visto um barco de motor 40hps ocupado por Bruno e Dom. Em seguida, a embarcação de “Pelado”, ostentando um motor de 60hps, passou na mesma direção da embarcação da dupla.

A PF afirma que, durante as buscas, o colaborador da Univaja, Orlando Possuelo, a bordo da embarcação da PF, foi acionado por indígenas locais que auxiliavam nas buscas e indicaram um lugar onde possivelmente uma lancha passou e colidiu com a vegetação da margem do rio. A equipe foi até o local, a aproximadamente 2km descendo o rio, e verificou uma vegetação nativa bem danificada, o que indicava a passagem de uma embarcação desgovernada.

A testemunha disse ainda que momentos depois de ter visto as embarcações de Bruno e Dom encontrou um outro homem nominado de “Dos Santos” remando uma pequena embarcação de madeira no meio do rio. Dos Santos solicitou ajuda para ser rebocado até mais à frente, tendo o ajudado a chegar ao barco de “Pelado”, que estava parado no meio do rio, com apenas um tripulante. Esse depoimento, segundo a PF, coloca “Pelado” e “Dos Santos” no lugar do suposto desaparecimento.

Testemunhas relataram aos policiais que a embarcação do suspeito, apreendida e trazida com ele até a cidade, passou em alta velocidade atrás de Bruno Pereira e Dom Phillips tão logo eles deixaram a comunidade São Rafael, em uma visita previamente agendada, para que o indigenista fizesse uma reunião com o líder comunitário apelidado de “Churrasco”, que é tio de Pelado, com o objetivo de consolidar trabalhos conjuntos entre ribeirinhos e indígenas na vigilância do território, bastante afetado pelas intensas invasões. “Churrasco acabou não comparecendo e o encontro acabou não aconteceu.

De acordo com o relatório da PF, a equipe de agentes federais apresentou um relato “minucioso” do que foi apurado durante os dias de incursões pela região, com a descrição das atividades realizadas. O trecho do depoimento de Pelado consta em relatório enviado pela PF ao ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Pelado declarou que conhece Bruno “apenas de vista” e disse que “nunca conversou com ele”. Afirmou ainda ser pescador há mais de 30 anos na área do rio Itaquaí, do ponto da base da Funai até o trecho do rio da comunidade São Gabriel, onde mora há 10 anos. Ele afirmou não possuir arma de fogo, “pois há muita fiscalização da polícia peruana na região de Islândia”. As informações são do jornal O Globo.

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