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Indo além da notícia

(Foto: Reprodução)

Que o Brasil não é um país para amadores já sabemos há muito tempo. A cada passo nos deparamos com a contradição e o inusitado. É preciso ler cada evento, notícia, declaração de autoridade, com redobrada atenção. Se a intenção for entender minimamente a conjuntura e as circunstâncias que nos acometem, é preciso refletir e ir além do fato – não há espaço para a observação superficial, para a distração.

Vejam as chacinas policiais. Em intervalos cada vez mais curtos, elas se multiplicam com o mesmo roteiro: as forças policiais se dirigem ao bairro distante para uma operação de rotina quando de repente sofrem um ataque traiçoeiro e são recebidos à bala pela bandidagem.

A vantagem da surpresa, entretanto, de nada serve aos meliantes, pois só muito raramente eles atingem um policial – são todos ruins de mira. Já toda a corporação dos policiais militares é composta de atiradores de elite: não perdem um tiro e não desperdiçam uma bala. De tal sorte que – ao menos é assim que o caso se apresenta na versão das autoridades – os cadáveres espalhados na calçada são todos de traficantes, autores de latrocínio, foragidos da polícia e estupradores. As autoridades sempre se gabam de operações “bem sucedidas”, sem tropelias ou excessos. Em hipótese alguma alguém foi torturado e menos ainda executado depois de rendido.

Bem, é o que se deve esperar de governos de bolsonaristas, como os de São Paulo (Tarcísio de Freitas) e Rio de Janeiro(Cláudio de Castro). Mas o que se deve dizer sobre o fato de que a polícia que mais mata no Brasil é a da Bahia, governado por petistas há 16 anos?

De São Paulo vem uma novidade revolucionária, pela mão de um secretário da Educação “brilhantíssimo”, segundo o governador Tarcísio: o fim do livro didático. Tudo agora se ensinará através de tablets e notebooks. Bota inteligência artificial nisso. É apenas estranho que ninguém no mundo tenha se dado conta de tão inovadora perspectiva.

Em outra área, a agência de risco Fitch melhorou a nota do Brasil, e melhorou também o astral de Lula e do governo. Mas o interessante da questão é que dentre as razões alinhadas pela Fitch estavam a independência do Banco Central, a reforma trabalhista(de Temer) e a reforma previdenciária(de Bolsonaro) – todas elas duramente combatidas pelo governo e pelo PT.

Na saúde, o atual governo autorizou o uso da ozonoterapia, um tratamento ridicularizado quando proposto para o combate à Covid, no tempo de Bolsonaro. A alegação da época é que não havia nenhuma evidência científica de que se tratava de uma técnica confiável e eficaz. No Brasil, cada governo tem uma evidência científica para chamar de sua. Para uns, ela está na ivermectina e na cloroquina, para outros na ozonoterapia.

De Brasília, noticiam a respeito das conclusões do inquérito do Exército sobre os eventos de janeiro: os militares nada têm a ver com a baderna. Tudo aconteceu por causa dos descuidos do governo Lula, que já estava há oito dias no poder e não tomou as providências devidas. Aquelas aglomerações nos arredores dos quartéis não eram golpistas: eram alegres e descontraídas quermesses de patriotas.

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