Terça-feira, 26 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 15 de janeiro de 2022
A Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL) estima que indústrias brasileiras têm capacidade para produzir até 10 milhões de autotestes de coronavírus por mês. Mas a entrega dependeria da demanda pelo procedimento, que ainda precisa ser regulamentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Conforme o presidente-executivo da entidade (que representa 70% do mercado do segmento), Carlos Gouvêa, essa possibilidade foi levantada em consulta a suas associadas à CBDL. E leva em consideração a possível fabricação do produto em laboratórios públicos.
“O produto, que pode ser utilizado em casa, deve ser mais barato que exames de antígeno, atualmente fornecidos em farmácias e laboratórios”, ressalta. “A produção dessa alternativa é mais cara que a do exame de antígeno, mas não há o custo do serviço do exame, daí o menor preço final. Hoje a gente vê valores de R$ 70 a R$ 150 nas farmácias. O autoteste deve ficar de R$ 45 a R$ 70”.
A procura pelos testes disparou com o avanço da contaminação na virada do ano. Ele projeta que a população deverá procurar 20 milhões a 40 milhões de unidades do autoteste no mercado privado, ao longo deste ano. Já a demanda na rede pública dependeria de políticas públicas definidas pelos governos.
Entidades científicas cobram das autoridades uma política de testagem mais ampla e a permissão para o exame em casa. Em nota divulgada no dia 12, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) alertou para risco de faltarem insumos necessários aos exames de covid e recomendou priorização de exames a pacientes, mediante uma escala de gravidade.
O presidente-executivo da CBDL alerta que a falta do produto não é generalizada e não deve se alongar, pois as empresas voltaram a contratar e ampliar linhas de fabricação. Segundo ele, o mercado deve conseguir ofertar volume maior do que o exigido de autotestes pelos consumidores, mas delimitar essa demanda ainda dependeria do avanço da doença.
Gouvêa estima que os primeiros exames que podem ser feitos em casa da Covid chegariam ao mercado cerca de um mês após a regulamentação do produto pelo governo. Depois de liberada a regra, as empresas ainda devem registrar os testes na Anvisa e fornecer os produtos.
Para o representante da indústria, haverá boa oferta de autotestes em cerca de três meses após a entrada do produto no Brasil. Ele afirma que empresas nacionais já têm desenhos de autotestes prontos para serem fabricados.
Próximos passos
A testagem no Brasil está centrada em clínicas, farmácias e serviços públicos. A Anvisa aguarda que o Ministério da Saúde proponha uma política pública para, então, regulamentar o autoteste. O titular da pasta, Marcelo Queiroga, garantiu que a proposta do governo federal deve ser entregue à agência nesta semana.
Uma das dúvidas no governo federal é sobre como notificar ao Sistema Único de Saúde (SUS) o diagnóstico da Covid obtido pelo autoteste. Para Gouvêa, uma alternativa é fornecer um “QR Code” na caixa dos dispositivos para que o paciente avise o governo caso confirme a infecção.
O autoteste é complementar, assim a notificação do resultado não seria a principal função, explica: “A pessoa testada em casa no mínimo vai buscar confirmação da infecção, provavelmente no laboratório. Vai ainda parar de sair, avisar pessoas mais próximas. Já atingiu objetivo de saúde pública de cortar a transmissão da covid”.
Além disso, parte da demanda deve ser suprida pelo autoteste. O dirigente da CBDL acrescenta que a maioria dos produtos de exames caseiros é vendida em caixa com um teste disponível: “Alguns fabricantes avaliam entregar com dois testes por unidade. Nos Estados Unidos há caixas com cinco exames”.
Os testes são compostos por material de coleta da amostra do paciente, além de diluentes e um dispositivo para apresentar o resultado da análise. A própria pessoa coleta material (com auxílio de um cotonete do tipo “swab”, como em um PCR normal) e o deposita sobre uma superfície que aponta se está infectada ou não.
A indústria brasileira, em geral, monta o produto no Brasil com partes importadas, segundo Gouvêa. O autoteste não é autorizado no País por causa de uma resolução da Anvisa de 2015, segundo a qual não podem ser fornecidos para leigos produtos que tenham a finalidade de diagnóstico de presença ou exposição a agente transmissível, “incluindo agentes que causam doenças infecciosas passíveis de notificação compulsória”.