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Por Redação O Sul | 5 de outubro de 2019
Farmacêuticas que atuam no mercado da maconha medicinal têm investido na criação de plataformas digitais com objetivo de cadastrar e treinar médicos para a prescrição de medicamentos à base de Cannabis, captar pacientes e vender seus produtos. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.
Esses serviços conectam pacientes a médicos que prescrevem canabinoides e a empresas que produzem e revendem esses produtos importados. Também acompanham o paciente no processo de reunir a documentação necessária, obter a autorização da Anvisa, comprar e importar a medicação e no tratamento.
Para representantes de conselhos médicos, há conflitos de interesse nessa situação e falta isenção na educação médica oferecida pela indústria que, muitas vezes, só quer promover a própria marca.
As empresas também podem incorrer em ações antiéticas ao vender seus produtos diretamente para os pacientes, além de reter informações confidenciais.
Das plataformas atuantes hoje no País, apenas a Dr. Cannabis não está vinculada a nenhuma marca de produto. Ela tem 4.000 pacientes e 400 médicos cadastrados (dos quais 70 prescrevem os remédios ).
“É uma plataforma isenta, que vende produtos de terceiros e tenta conseguir o melhor preço para o cliente. As outras vendem ou representam seu próprios produtos”, diz Viviane Sedola, CEO e fundadora da Dr. Cannabis.
Para ela, as empresas que atuam no Brasil foram obrigadas a criar esse tipo de estrutura, caso contrário não conseguiriam atuar.
A empresa OnixCan/Cantera tinha até meados de agosto 330 médicos cadastrados, dos quais 20 usam a plataforma para a prescrição de produtos. O site oferece cursos a médicos de dois dias a preços que variam de R$ 770 a R$ 990.
Neles são expostos indicações terapêuticas dos remédios à base de Cannabis, trâmites para a prescrição e a parte jurídica para o acesso.
“As principais dúvidas deles são: como eu prescrevo? Com o que eu tenho que tomar cuidado? Qual é a dose mínima, qual a dose máxima? Como aumento a dose?”, diz o advogado Marcelo Galvão, CEO da OnixCann/Cantera.
Para cada doença, há um conjunto de estudos científicos que respaldam a indicação, segundo Galvão. “Ninguém questiona o uso da Cannabis para essas 23 patologias. São evidências suficientes para qualquer médico prescrever. Nenhum conselho [médico] poderá adotar qualquer medida coercitiva ou punitiva contra esse médico”, diz ele.
Segundo ele, muitas vezes, os conselhos assustam os profissionais, o que os deixam inseguros para prescrever a substância. “O CFM pode errar, é um assunto novo.”
Para Galvão, ao ter acesso às evidências científicas “fortes, médias e fracas” sobre benefícios e segurança do uso das medicações à base de Cannabis, o médico tem todo o amparo para prescrever.
A ideia, segundo o advogado, é que toda a consulta com o paciente fique cadastrada na plataforma. “Todas as perguntas de anamnese e todo resultado de tratamento vão ficar registrados no prontuário.”
Mas e a segurança de dados sigilosos do pacientes? “A gente segue toda a legislação de sigilo. Só o médico e quem cuida do sistema têm acesso aos detalhes do paciente. Quando a gente tabula as informações pode fazer isso sem individualizá-las. Coloca, por exemplo, só a faixa etária e o sexo.”
A Verdemed Care dispõe de plataforma com finalidades semelhantes, como interação com o público em geral sobre informações sobre a Cannabis medicinal e como acessá-la, além de área restrita a médicos, com literatura técnica, estudos clínicos e oferta de cursos de formação sobre a Cannabis medicinal.
José Bacellar, presidente da empresa, não vê problemas éticos no fato de as farmacêuticas estarem promovendo a educação médica sobre Cannabis.
“A classe médica se apoia muito na propaganda farmacêutica como mecanismo de receber literatura [médica]. Qual a alternativa se a indústria não leva essa informação? Só médico rico, menos de 5% do País, consegue ir a congressos.”
Para ele, é óbvio que existe um conflito de interesse porque a intenção da indústria é que seus produtos sejam prescritos. “Mas o médico tem discernimento para tomar uma decisão. No caso do CBD [canabidiol], que tem dez marcas, não vejo problema nenhum. O médico não é obrigado a prescrever nada. O conflito maior é quando o remédio ainda tem patente e existe um monopólio.”
A Indeov é outra empresa que conecta pacientes, cuidadores a médicos e produtores de Cannabis medicinal.
Além do apoio ao médico durante a prescrição, o paciente também recebe ajuda na compra e no monitoramento terapêutico.
“Cuidamos de tudo do início ao fim. Isso traz segurança para o paciente e para o médico que o acompanha”, diz a diretora da empresa, Camila Teixeira.
Teixeira garante que a empresa respeita as regras de confidencialidade das informações. “O monitoramento é importante para assegurar que o tratamento está sendo efetivo.”