Segunda-feira, 28 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 14 de fevereiro de 2023
Por trás da possibilidade de elevar a meta de inflação, há a intenção de não dar mais importância à inflação baixa, afirmou o economista Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro Nacional. Para ele, na medida em que a meta for calibrada para um nível mais alto isso irá mostrar que a inflação mais baixa não é um objetivo importante para o governo, atrelada à ideia equivocada de que mais carestia gera mais crescimento.
Kawall argumentou que a convergência da inflação à meta em 2023 e 2024 está atrapalhada pelo aumento do gasto público, mas que atingir ou não o alvo nos dois anos seguintes não tem a ver com a circunstância fiscal atual. “O descolamento das expectativas de inflação em 2025 e 2026 começou a ocorrer nas últimas semanas, não em novembro ou dezembro, quando o governo anunciou a PEC de Transição”, disse.
Para o economista, se a política monetária for mantida apertada por tempo o suficiente para compensar o aumento de gasto público previsto neste e no próximo ano, há condições de se chegar à meta de inflação em 2025 e 2026. “Se fizermos uma inflação ligeiramente acima ou abaixo da meta, dentro do intervalo estipulado pelo Conselho Monetário Nacional, não há o que falar de descumprimento”, afirmou.
Risco fiscal
Kawall disse que a ideia equivocada de que não será possível convergir a inflação neste horizonte mais longo ao risco fiscal está sendo usada como argumento para aumentar a meta de inflação. A discussão que é usada, afirmou ele, para uma possível elevação da meta é o que está promovendo o deslocamento de expectativas no período.
“Todo mundo está começando a ver a inflação mais elevada pelas sinalizações de mudança de meta e de que o substituto do Roberto Campos Neto possa não ter o mesmo compromisso com a inflação mais baixa e com a ancoragem de expectativas”, avalia o economista, que associa o receio a eventos vistos durante o governo Dilma Rousseff (PT).
“No governo Dilma, na prática, tínhamos um Banco Central que mirava um juro calibrado para uma inflação de 5% e 6%, e não de 4,5%, o que levou a inflação a ficar sistematicamente acima da meta. Houve um momento em que ela foi para 11%, em um momento em que a inflação global era praticamente zero. O Brasil ficou completamente fora dos padrões globais pela falta de autonomia do BC, uma meta de inflação muito alta e um descompromisso com a própria meta, mesmo sendo mais alta.”
Kawall avaliou que, com uma elevação da meta, o Brasil iria na contramão dos principais países emergentes, “que praticam meta de 3% há muito tempo”. “Demoramos muito para conquistar a meta de inflação em nível internacional, dos emergentes, e demoramos para conseguir a autonomia do BC, que está se mostrando muito importante.”