O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do País, somou 0,38% em julho. O valor mensal já trouxe uma aceleração, mas o que chamou a atenção foi que o indicador avançou para 4,5% em 12 meses, ou seja, no teto do sistema de metas.
De acordo com analistas, a inflação no teto da meta joga mais pressão sobre a atuação do Banco Central (BC) na determinação da taxa básica de juros, que atualmente está em 10,5% ao ano, mas não é o principal fator, neste momento, na fixação da Selic.
Isso ocorre porque as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC sobre os juros demoram de seis a 18 meses para terem impacto pleno na economia. Por isso, elas são tomadas olhando para frente, com base o cenário futuro para a inflação, e não os números dos últimos meses.
Os últimos dados da inflação, entretanto, podem fornecer ao Banco Central indicações sobre o que pode acontecer com os preços no futuro. Segundo avaliou na Câmara dos Deputados nesta semana o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, a inflação dos últimos meses é avaliada para ver “o qualitativo [da inflação], para ter alguma leitura sobre o que vai afetar na frente”.
Se há, por exemplo, uma tendência de alta persistente e generalizada da inflação, com os núcleos mensais do IPCA (que eliminam a cada mês as maiores e as menores variações dos preços que compõem o índice cheio) subindo, a instituição pode optar por ter uma política de juros mais dura.
A meta central de inflação é de 3% neste ano, e será considerada formalmente cumprida se o índice oscilar entre 1,5% e 4,5% neste ano. A partir de 2025, e a meta passou a ser contínua em 3%, podendo oscilar entre 1,5% e 4,5% sem que seja descumprida (sempre considerando o cenário em 12 meses).
O problema é que as projeções de inflação, tanto do mercado financeiro quanto do BC, estão subindo para os próximos anos.
Na semana passada, os analistas dos bancos estimaram um IPCA de 3,97% para 2025 e de 3,60% para 2026 — acima do objetivo central de 3%, mas dentro do limite de até 4,5%. No fim de julho, o Banco Central projetou uma inflação de 4,2% para 2024 e de 3,6% para 2025, também acima da meta central e dentro do intervalo de tolerância.
Em junho deste ano, o BC informou que a possibilidade de a inflação estourar o teto da meta neste ano era de 28%. Um novo cálculo será feito em setembro. No caso de descumprimento da meta, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, terá de escrever uma carta aberta ao ministro da Fazenda explicando os motivos.
Por conta da piora das expectativas de inflação, o BC informou, por meio da ata da última reunião do Copom, que não “não hesitará em elevar a taxa de juros” se julgar apropriado. Cotado para ser presidente do BC a partir de janeiro de 2025, o diretor de Política Monetária da instituição, Gabriel Galípolo, disse que “todos diretores [do BC, com voto na definição da taxa de juros] estão dispostos a fazer o que for necessário para cumprir a meta [de inflação]”. Esse recado foi reforçado pelo próprio presidente do BC, Roberto Campos Neto, em audiência pública na Câmara dos Deputados.
Até o momento, porém, a maior parte do mercado financeiro ainda não acredita em alta de juros neste ano e em 2025. Para os economistas Alexandre Maluf e Rachel de Sá, da XP Investimentos, o resultado da inflação de julho veio um pouco acima das expectativas, com a principal surpresa vindo da gasolina (que teve reajuste anunciado recentemente), assim como mudança na bandeira tarifária da energia elétrica.
Ao mesmo tempo, os analistas avaliaram que os preços de produtos industriais retomaram força em julho diante da disparada do dólar e da demanda aquecida, e a inflação de serviços acelerou. Por outro lado, eles observaram que os preços dos alimentos seguiram em queda em julho.
Considerando os últimos números da inflação, a XP estimou que a inflação “siga relativamente bem-comportada nos próximos meses”, e que encerre este ano em 4,1%, ou seja, acima da meta central do Banco Central, de 3%, mas dentro do intervalo de tolerância (abaixo de 4,5%).