Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 9 de julho de 2023
Motivado por divergências a respeito da proposta de reforma tributária, o desentendimento entre o governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Jair Bolsonaro (PL) provocou divisões em grupos de apoiadores do ex-presidente. É o que apontam pesquisas qualitativas realizadas pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
O monitoramento foi realizado pelo Laboratório de Estudos da Mídia e Esfera Pública (Lemep) do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da instituição. Coordenadores do trabalho, os cientistas políticos Carolina de Paula e João Feres identificaram diferentes perfis nas opiniões de dois grupos de bolsonaristas:
– “Convictos” (que apoiaram a baderna extremista de janeiro em Brasília).
– “Moderados” (que seguem Bolsonaro mas discordam de atitudes como o quebra-quebra).
Em meio à constatação de que os convictos evidenciam um desconhecimento geral sobre detalhes da reforma, eles utilizam o que os especialistas denominam de “atalho informacional”, oferecido por Bolsonaro como parâmetro para “medir” se o apoiador está ou não ao seu lado: a direita está certa, enquanto a esquerda está errada e passou a contar com “traidores”, incluindo políticos que se deixam “contaminar”.
“Para esse segmento, Bolsonaro está certo em sua posição contrária à reforma porque ‘conhece o Brasil’ e ‘sabe melhor que ninguém’ o que é bom para a direita”, explica Carolina. “Entre os convictos há os irritados com a postura de Tarcísio, ao passo que entreos moderador há quem o considere ‘ingênuo’ e que não houve briga, mas conflito de opiniões.”
Uma das opiniões coletas é emblemática. “Bolsonaro, por ser mais experiente, já tem o conhecimento na prática sobre isso, enquanto Tarcísio ainda está movido pelos discursos esquerdistas que falam, falam e não fazem nada”, escreveu uma empreendedora baiana de 39 anos, identificada como integrante dos “convictos”.
Enquanto na base mais fiel de Bolsonaro o consenso é o de que Tarcísio deveria ouvir mais Bolsonaro, entre os moderados há uma percepção de esse conflito pode ter novos desdobramentos e agravamentos, por serem seus protagonistas os dois principais nomes da direita brasileira.
“Há inclusive quem considere a ‘briga’ como disputa por espaço político dentro da direita como um todo”, analisa João Feres. “Assim, sobram críticas para ambos. Nesse segmento, os participantes ponderam que a reforma tributária é um assunto complexo, e que, por isso, as opiniões muitas vezes são diferentes.”
São poucos os que têm um posicionamento claro sobre o texto aprovado, conclui a pesquisa. Uma autônoma de 28 anos, residente no Distrito Federal e classificada como “moderada”, manifestou-se em postagem analisada pelos cientistas políticos:
“Eu particularmente também não concordo, acho que está muito vago… Então deveria ser realmente mais pensado e detalhado, acho que infelizmente tem mais contras que prós e isso vai prejudicar nos pobres, infelizmente essas brigas deixam tudo pior”.
Nos moderados, os conflitos acabam prejudicando o próprio País, em um sinal de que o vídeo de um Tarcísio pressionado e interrompido por Bolsonaro durante reunião com integrantes do PL em Brasília pode ter sido politicamente ruim para ambos.
Moderação X radicalismo
Não há número exato sobre o tamanho desses dois grupos na base dos 58,2 milhões de votos recebidos pelo ex-presidente em 30 de outubro — afinal, há um terceiro segmento: os antipetistas que não são bolsonaristas. Mas estima-se que o grupo dos moderados é significativamente maior. Até porque pesquisas como a realizada em janeiro pelo Datafolha apontam que apenas 10% dos eleitores de Bolsonaro apoiaram os atos golpistas de 8 de janeiro.
Os pesquisadores do Lemep dividiram os dois grupos de 18 bolsonaristas de várias regiões, religiões, renda, entre outros, e perguntaram, na última sexta-feira, dia seguinte à crise, quem estava certo na discussão: Bolsonaro ou Tarcísio? A pergunta foi feita no mesmo dia em que Bolsonaro e Tarcísio se reuniram após o episódio e tentaram colocar panos-quentes no desentendimento do dia anterior.
“Como qualquer estudo qualitativo, os resultados não são generalizáveis à toda a população bolsonarista, mas oferecem detalhes sobre como certos grupos de interesse pensam”, reiteram os responsáveis pelo trabalho.