Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 5 de janeiro de 2024
O mistério em torno de uma obra-prima do pintor renascentista italiano Rafael Sanzio (1483-1520), exposta no Museu do Prado, em Madri, pode ter sido resolvido por um programa de inteligência artificial desenvolvido pela Universidade de Bradford, no Reino Unido.
Um algoritmo criado por um grupo de pesquisadores estabeleceu que a figura de São José que fica à esquerda na pintura Madonna della Rosa (A Virgem da Rosa, em português) não foi pintada pelo artista italiano, como alguns especialistas suspeitavam desde meados do século 18.
Criada por volta de 1518-20, a pintura, que retrata Maria, José e Jesus com João Batista, foi testada por uma ferramenta de IA que concluiu que a maior parte da pintura é de Rafael, mas o rosto de José foi pintado por uma pessoa diferente. Já a parte inferior é, “muito provavelmente”, do artista.
Segundo o matemático e cientista Hassan Ugail, da Universidade de Bradford, para tentar esclarecer o mistério os pesquisadores treinaram o algoritmo com todas as obras que foram atribuídas “com certeza” ao artista italiano.
“Através de uma análise profunda, usamos imagens de pinturas autenticadas de Rafael para treinar o algoritmo a reconhecer o seu estilo num grau muito detalhado, desde pinceladas, paleta de cores, sombras e todos os aspectos da obra”, explica ele.
Os especialistas debatem há muito tempo a questão em torno da autoria da obra: alguns acreditam que ela pode, de fato, ser atribuída, pelo menos em parte, a artistas da oficina de Rafael, como Giulio Romano. De acordo com Ugail, “o computador consegue ver muito mais profundamente do que o olho humano, no nível microscópico, e consegue reconhecer obras autênticas dos artistas com 98% de precisão”.
“Quando testamos a pintura como um todo, os resultados foram inconclusivos, por isso analisamos as diferentes partes separadamente: enquanto a IA confirma que o restante da pintura (a Virgem, o Menino e São João Batista) pode ser atribuído a Rafael, o rosto de São José é provavelmente fruto de uma outra mão”, conclui Ugail.
Para os autores do estudo, publicado na revista Heritage Science, a IA poderá ajudar os historiadores em arte no futuro, sem substituí-los, no complicado processo de autenticação de uma obra, tarefa que obriga a consideração de muitos aspectos ao mesmo tempo – a origem, os pigmentos utilizados ou as condições em que se encontra.