Por Redação O Sul | 23 de novembro de 2023
Em reviravolta na crise que surpreendeu e movimentou o mundo da tecnologia por cinco dias, a OpenAI, dona do ChatGPT, anunciou na noite de terça-feira o retorno de Sam Altman ao posto de presidente executivo da empresa. Ao mesmo tempo, membros do conselho críticos a Altman e que haviam decidido pela sua demissão foram afastados de seus postos, pondo fim, aparentemente, às tensões na companhia.
Antes de Altman ser demitido da OpenAI na semana passada, ele e o conselho de administração da empresa já estavam brigando há mais de um ano. A tensão piorou quando a OpenAI se tornou um nome popular graças ao seu chatbot ChatGPT.
Em um determinado momento, Altman tentou expulsar um dos membros do conselho – Helen Toner – por considerar que um trabalho acadêmico assinado por ela em conjunto com outros pesquisadores criticava a empresa. Outro membro, Ilya Sutskever, achava que Altman nem sempre estava sendo honesto ao falar com o conselho. Alguns dos integrantes do colegiado também temiam que Altman estivesse muito concentrado na expansão da empresa, enquanto eles queriam equilibrar esse crescimento com a segurança da inteligência artificial (IA).
A notícia de que ele estava sendo afastado veio em uma videoconferência na tarde de sexta-feira, quando Sutskever, que trabalhava com Altman na OpenAI desde a sua criação, leu uma declaração para ele. A decisão surpreendeu os funcionários da OpenAI e expôs os membros da diretoria a perguntas difíceis sobre suas qualificações para gerenciar uma empresa de tão alto nível.
Aparentemente, essas tensões chegaram ao fim na terça-feira, quando Altman foi reintegrado ao cargo de CEO. Sutskever e outros críticos de Altman foram expulsos do conselho, cujos membros agora incluem Bret Taylor, um dos primeiros executivos do Facebook e exchefe executivo da Salesforce, e Larry Summers, ex-secretário do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos. O único remanescente é Adam D’Angelo, executivo-chefe do site de perguntas e respostas Quora.
O incidente da OpenAI ilustra como a criação de sistemas de IA está testando se os empresários que querem ganhar dinheiro com a inteligência artificial podem trabalhar em sincronia com os pesquisadores que se preocupam com o fato de que o que eles estão criando pode acabar eliminando empregos ou se tornar uma ameaça se tecnologias como armas autônomas ficarem fora de controle.
A OpenAI foi fundada em 2015 com um plano ambicioso de um dia criar um sistema automatizado superinteligente que pudesse fazer tudo o que um cérebro humano pode fazer. Mas o atrito dos últimos dias atormentou a diretoria da empresa, que nem sequer conseguiu chegar a um acordo sobre os substitutos dos membros que haviam deixado seus cargos. Antes do retorno de Altman, a própria continuidade da empresa estava em dúvida. Quase todos os 800 funcionários da OpenAI ameaçaram seguir Altman para a Microsoft, que o convidou para liderar um laboratório de IA com Greg Brockman, que deixara seus cargos de presidente da OpenAI e presidente do conselho em solidariedade a Altman.
Os conselheiros disseram a Brockman que ele não seria mais o presidente do conselho da OpenAI, mas o convidou a permanecer na empresa – embora ele não tenha sido convidado para a reunião em que se decidiu pelo seu afastamento da diretoria e de Altman da empresa.
Os problemas do conselho da OpenAI podem ser atribuídos à origem sem fins lucrativos da startup. Em 2015, Altman se uniu a Elon Musk e outros, incluindo Sutskever, para criar uma organização sem fins lucrativos para desenvolver uma IA que fosse segura e benéfica para a humanidade. Eles planejavam arrecadar dinheiro de doadores privados para a missão. Mas, em poucos anos, perceberam que suas necessidades de computação exigiam muito mais financiamento do que poderiam arrecadar de pessoas físicas.
Após a saída de Musk, em 2018, eles criaram uma subsidiária com fins lucrativos que começou a arrecadar bilhões de dólares de investidores, incluindo US$ 1 bilhão da Microsoft. A subsidiária seria controlada pelo conselho sem fins lucrativos e que o dever fiduciário de cada diretor seria à “humanidade, não aos investidores da OpenAI”, dizia a empresa em seu site.
Horas após a destituição de Altman, os executivos da OpenAI confrontaram os membros do conselho em uma videoconferência, segundo pessoas que estavam na chamada. Durante a ligação, Jason Kwon, diretor de estratégia da OpenAI, disse que o conselho estava colocando em risco o futuro da empresa ao expulsar Altman. E isso, disse, violava as responsabilidades dos membros.
Algumas semanas antes da demissão de Altman, ele se reunira com Helen Toner, membro do conselho e diretora de estratégia do Centro de Segurança e Tecnologia Emergente da Universidade de Georgetown, para discutir um artigo que ela havia coescrito para o centro de Georgetown. Ele reclamou que o trabalho parecia criticar os esforços da OpenAI para manter suas tecnologias de IA seguras, ao mesmo tempo em que elogiava a abordagem adotada pela Anthropic, que se tornou a maior rival da OpenAI, de acordo com um e-mail que Altman escreveu a colegas. As informações são do jornal The New York Times.
