Domingo, 17 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 15 de agosto de 2024
Se você navega na internet é bem provável que esteja usando inteligência artificial, ou IA, sem nem perceber. Ela está lá, arrumando suas buscas, limpando seu inbox de spam e até sugerindo o próximo vídeo para assistir. Também está nos bastidores, fazendo os semáforos fluírem melhor e ajudando os médicos a pegarem detalhes importantes em exames. Já ouviu falar do ChatGPT da OpenAI?
As pessoas estão usando para tudo, desde escrever documentos legais até compor músicas. É impressionante como essa tecnologia se tornou comum rapidamente, alcançando um grande número de pessoas em todo o mundo. Atualmente, tanto grandes empresas quanto professores ou alunos, estão buscando compreender como se encaixar nesse novo cenário. Mas, tem um lado que não é muito falado: a pegada ecológica que vem com esse avanço.
A Agência Internacional de Energia diz que centros de dados, criptomoedas e IA representaram quase 2% da demanda global de energia em 2022 – e isso pode dobrar até 2026 para quase igualar o consumo de eletricidade do Japão, revelou o Financial Times.
Tudo indica que o crescimento da IA seja exponencial daqui para a frente. Desafios mundiais demandarão cada vez mais seu uso. Por exemplo, as empresas de tecnologia devem acelerar o uso da IA para auxiliar na transição verde. Em nosso caso, os oceanos, a IA pode ser muito bem-vinda para a exploração submarina.
Custo da energia
Entretanto, tudo em nossa vida tem um custo. No caso da IA, milhares de empregos podem desaparecer mas, além disso, já estamos pagando um alto preço desde que ela nasceu: o custo da energia. Não costumamos relacionar as novidades da tecnologia com a respectiva pegada de carbono. No entanto, é preciso. Pesquisas estimam que até 2025 o setor de TI poderá usar 20% de toda a eletricidade produzida e lançar até 5,5% das emissões de carbono do mundo.
As tecnologias de IA generativa, elogiadas por suas capacidades, estão cada vez mais sob escrutínio pelos seus custos ambientais ocultos. A indústria dos centros de dados, que sustenta estas tecnologias, é responsável por 2–3% das emissões globais de gases com efeito de estufa. Estes centros de dados, que consomem cerca de 7% da eletricidade da Dinamarca e 2,8% da eletricidade dos Estados Unidos, necessitam de imensas quantidades de energia e água.
Previsões sombrias
Segundo o New York Times, na matéria O apetite insaciável da IA para a energia, um estudo revisto por pares sugere que a I. A. poderá representar 0,5% do consumo mundial de eletricidade até 2027, ou seja, aproximadamente o que a Argentina consome num ano. Os analistas da Wells Fargo sugeriram que a procura de eletricidade nos EUA poderá aumentar 20% até 2030, em parte devido à I.A.
O jornal lembra que as emissões do Google no ano passado foram 50% maiores que em 2019, em grande parte por causa dos data centers e do aumento da IA. Enquanto isso, as emissões da Meta subiram 66%, de 2021 para 2023; pelos mesmos motivos as emissões da Microsoft subiram 29% de 2020 para 2021.
Efeito no clima
Sobre a questão do resfriamento, e consequente necessidade de água, saiba que os data centers submersos nos oceanos começam a ser estudados para diminuir a pegada. São estruturas que abrigam servidores e hardware de processamento de dados, colocados no leito do oceano. Essa abordagem radical surgiu da necessidade de encontrar maneiras mais eficientes e ecológicas de operar instalações de TI em grande escala.
John Naughton, especialista no tema, escreveu um artigo para o Guardian. O título já diz tudo: Por que a IA é um desastre para o clima? Ele informa que um estudo de 2019, por exemplo, estimou a pegada de carbono do treinamento de um único modelo inicial de grande linguagem (LLM), como o GPT-2, em cerca de 300.000 kg de emissões de CO 2 – o equivalente a 125 voos de ida e volta entre Nova York e Pequim. Desde então, os modelos tornaram-se exponencialmente maiores e a sua área de formação será, portanto, proporcionalmente maior.
A conclusão do New York Times é que o boom da I.A. está gerando grandes lucros para algumas empresas. E pode ainda vir a trazer avanços que ajudem a reduzir as emissões. Mas, pelo menos por enquanto, os centros de dados estão fazendo mais mal do que bem ao clima.