Os Estados Unidos anunciaram na segunda-feira o envio do submarino Georgia, com capacidade de disparar mísseis, para o Oriente Médio em meio à expectativa de uma potencial retaliação do Irã ao ataque atribuído a Israel que causou a morte do líder do Hamas Ismail Haniyeh em Teerã no fim de julho. Sob sanções da comunidade internacional, o regime teocrático investiu em uma indústria armamentista própria, que se desenvolveu à margem de controles externos – o que é motivo de preocupação para rivais regionais e no Ocidente.
Oficialmente, o Irã não possui armas nucleares. De acordo com a Arms Control Association, entidade americana que desde 1971 monitora os arsenais nucleares pelo mundo, apenas nove países possuem bombas nucleares: Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido, Paquistão, índia, Israel e Coreia do Norte. No entanto, uma fonte de inteligência israelense ouvida em anonimato pelo jornal O Globo afirmou que o país já tem a plataforma para lançamento de bombas nucleares (mísseis) e que a quantidade de urânio enriquecido necessária para fabricar armas está perto de ser alcançada. Israel trabalha com uma estimativa de que a arma possa ser alcançada em dois anos.
Nessa terça-feira, o Irã rejeitou os apelos dos países ocidentais para renunciar a suas ameaças contra Israel e afirmou que não pede “autorização” para responder ao seu arqui-inimigo, a quem acusa de ter assassinado o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, no seu território.
Em um relatório confidencial recente, obtido por agências de notícias no fim de fevereiro, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) revelou ter “preocupações” com o programa iraniano. Os dados do documento mostraram que Teerã aumentou a quantidade de urânio enriquecido nos últimos meses, superando os limites impostos pelo Plano de Ação Conjunta Global (JCPOA, em inglês), um acordo firmado em 2015 – um texto considerado quase morto desde que foi abandonado pelos EUA, durante a administração Trump, e para o qual os americanos nunca retornaram.
Dados do relatório, citados pela AFP, mostram que as reservas de material enriquecido eram, no dia 10 de fevereiro, de 5.525,5 kg (vinte e sete vezes acima do limite estabelecido pelo JCPOA). Em outubro, o Irã armazenava 4.486,8 kg de material radioativo, enriquecido em diferentes graus.
Segundo o Wall Street Journal, que também teve acesso ao relatório da AIEA, o Irã tinha 121,5kg de urânio enriquecido a 60%, sendo a única nação que não tem armas atômicas a enriquecer o material a esse grau. Apesar do enriquecimento não ser suficiente para fabricação de armas, especialistas apontam que o país tem a tecnologia para levar o material aos 90% necessários para uso militar. Pela definição da AIEA, são necessários 42kg de urânio enriquecido neste nível para fins bélicos.
Com um programa nuclear criado nos anos 1950, as atividades iranianas no setor começaram a ser observadas mais de perto no começo do século, após denúncias feitas por dissidentes sobre instalações secretas e planos para a construção de uma bomba. Oficialmente, as autoridades locais dizem que o programa tem fins pacíficos, e citam uma fatwa (decreto religioso) do aiatolá Ali Khamenei que veta sua militarização. A AIEA relata dificuldade para seus inspetores trabalharem no país e terem acesso a dados atualizados sobre o desenvolvimento do programa.
Excluída a potencial ameaça nuclear, Teerã possui capacidades militares consideráveis na hipótese de uma guerra tradicional. Na indústria bélica nacional, o programa mais consolidado, e provavelmente o que possui as principais armas capazes de projetar o poder iraniano para fora de seu território, é o de mísseis – que recebeu 41% do orçamento militar do país no ano passado.
Fontes militares são unânimes em afirmar que o arsenal de mísseis iranianos evoluiu em qualidade e quantidade nos últimos 15 anos, ganhando alcance e sofisticação. Estimativas da inteligência dos EUA indicam que o regime dos aiatolás conta com mais de 3 mil mísseis balísticos, de tipos e com alcances variados, incluindo alguns capazes de alcançar Israel e até a Europa. As informações são do jornal O Globo e de agências internacionais de notícias.