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Por Redação O Sul | 10 de julho de 2022
Bebês que consumiram pequenas porções de amendoim, leite de vaca, trigo e ovo a partir dos três meses apresentaram um risco menor de desenvolver alergia aos alimentos aos três anos de idade. A conclusão é de um amplo estudo conduzido pelo Instituto Karolinska, na Suécia, e pela Universidade de Oslo, na Noruega, publicado na revista científica The Lancet.
Os pesquisadores apontam que trabalhos anteriores já haviam indicado que a introdução precoce de alimentos considerados alergênicos em bebês suscetíveis pode reduzir o risco de desenvolver os problemas, que afetam cerca de 2% a 5% das crianças. No entanto, as evidências sobre a estratégia para a população de modo geral ainda são poucas.
Os resultados do novo estudo, que envolveu 2.397 bebês, constatou que aqueles que não tiveram contato com os alimentos a partir de três meses tiveram um risco maior para as alergias. Para chegar a essa conclusão, os cientistas dividiram os recém-nascidos em quatro grupos que passaram por intervenções diferentes durante o período de avaliação.
O primeiro, para controle, contou com bebês que não foram expostos aos alimentos em nenhum momento. O segundo envolveu indivíduos que tiveram contato somente a partir da pele, por meio de cremes contendo os ingredientes, por exemplo. Já no terceiro, ficaram os bebês que consumiram os alimentos considerados alergênicos com regularidade. No último, foram enquadrados os que passaram por uma combinação das duas intervenções anteriores, ou seja, ingestão e contato pela pele.
Nos últimos dois grupos, o amendoim foi introduzido primeiro, seguido pelo leite de vaca, depois mingau de trigo e ovo. Os pais foram instruídos a deixarem o bebê provar a comida pelo menos quatro dias por semana junto com sua nutrição regular. Depois, foram encorajados a incluírem os quatro alimentos como parte da dieta regular da criança, mas apenas após os seis meses de idade.
“Estamos falando de pequenas quantidades, um bebê chupando um dedo coberto com manteiga de amendoim, digamos, ou saboreando uma colher de chá”, explica Bjorn Nordlund, líder do grupo de pesquisa do Departamento de Saúde da Mulher e da Criança do Instituto Karolinksa, na Suécia.
Quando chegaram a três anos, os pesquisadores analisaram a incidência de alergias nos quatro grupos, concluindo uma maior prevalência entre os que não tiveram contato com os alimentos, 2,3% do total, e nos que tiveram por meio da pele, 3% – estratégia que não se demonstrou eficaz para reduzir o risco.
Já entre os que ingeriram pequenas porções de amendoim, leite, trigo e ovo a partir dos três meses, o número de crianças com alergias foi de apenas 0,9% do total. Entre as que passaram por uma combinação de consumo e exposição pela pele, a incidência foi de 1,2%.
As diferenças foram mais significantes ainda quando analisada apenas a alergia ao amendoim, o tipo mais prevalente no estudo. O percentual de bebês que desenvolveu o quadro tendo ingerido o alimento foi de apenas 0,7%, enquanto no outro grupo foi de 2%, mais que o dobro.
“Este é um efeito protetor significativo, uma vez que envolve um remédio simples. A introdução precoce reduziu claramente o risco de alergia ao amendoim, uma alergia que dura a vida inteira e que pode causar reações graves e ansiedade que muitas vezes afetam a qualidade de vida”, afirma Nordlund.
Na Suécia, as recomendações da Agência Nacional de Alimentos sobre alimentação infantil sugerem que os bebês experimentem alimentos regulares a partir dos quatro meses de idade, desde que as quantidades sejam pequenas o suficiente para não competirem com a amamentação.
No estudo, a introdução dos alimentos a partir de três meses não afetou o aleitamento materno, dizem os pesquisadores, com cerca de 90% dos bebês em todos os grupos ainda sendo amamentados.
No entanto, embora os resultados do estudo demonstrem benefícios para prevenir as alergias com a experimentação dos ingredientes a partir de três meses, a Organização Mundial da Saúde (OMS) orienta que, até os seis meses, o bebê seja alimentado exclusivamente com leite materno. Após essa idade, pode ser incluída a alimentação complementar apropriada. Porém, a amamentação deve continuar até o segundo ano de vida da criança ou mais.
Ainda assim, os pesquisadores responsáveis pelo estudo defendem que os achados mostram que a introdução precoce e regular dos alimentos alergênicos é uma estratégia eficaz para reduzir o risco de alergias.
“Seguindo nossos resultados e outros estudos, podemos dizer que é possível diminuir o risco de alergia alimentar dando aos bebês pequenas porções de manteiga de amendoim regularmente a partir dos três meses de idade, e também parece ser seguro”, diz Nordlund.