Quarta-feira, 08 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 7 de janeiro de 2025
A autorização da Justiça Federal para abertura de uma investigação contra um soldado israelense gerou trocas de acusações entre representantes da esquerda e da direita brasileira. Na semana passada, um militar identificado como Yuval Vagdani passou a ser alvo de uma denúncia pela suposta prática de crimes de guerra na Faixa de Gaza, enquanto passava as férias na Bahia.
Com a repercussão do caso, lideranças ligadas ao bolsonarismo criticaram a decisão judicial nas redes sociais e acusaram o atual governo de “perseguição aos judeus”. Em resposta, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, se referiu ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense, como “genocidas”.
Segundo o jornal O Globo, Vagdani fez um post temporário em seu perfil privado no Instagram de uma área residencial devastada na Faixa de Gaza. “Que possamos continuar destruindo e esmagando este lugar imundo sem pausa, até os seus alicerces”, escreveu na publicação. Dois meses depois, com a sua chegada no Brasil para um período de férias, a Justiça brasileira concedeu um pedido de investigação para a Polícia Federal (PF) apurar a prática de supostos crimes de guerra cometidos pelo soldado em sua terra natal.
Ao comentar o caso em um post nesta segunda-feira, Bolsonaro se referiu ao militar como “um soldado do povo de Deus” e disse que, caso ainda fosse presidente, o receberia com “as devidas honras”. “Esse ataque a Israel, país irmão, bem demonstra que Lula da Silva, que nada fez para sanar essa injustiça, sempre esteve ao lado de ditadores e terroristas do mundo todo”, criticou o ex-mandatário.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, também se pronunciou sobre o caso. Em um vídeo publicado em suas redes sociais, ele afirmou que o militar seria “um sobrevivente que está combatendo terroristas” e classificou a Justiça como “militante”. O posicionamento do parlamentar também foi compartilhado pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), que escreveu em um post no X que o Brasil estaria se tornando “oficialmente antissemita”.
Em resposta, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffman, afirmou que Bolsonaro “sempre defendeu a ditadura, a tortura e torturadores”. Ela também disse que o ex-presidente seria um aliado do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, que teria “dado fuga a um soldado do Exército de Israel investigado por seus crimes pela Justiça brasileira”. “Os genocidas se entendem, não é mesmo?”, completou Gleisi.
Caso
A ação movida no Brasil contra Vagdani partiu de uma investigação feita pela Fundação Hind Rajab (HRF, na sigla em inglês), uma ONG pró-Palestina que se dedica a documentar e denunciar crimes de guerra em Gaza. Em entrevista ao jornal O Globo, a advogada Maira Pinheiro, que assina a notícia-crime contra Vagdani, afirma que foi contatada pela organização após a equipe de investigação da organização identificar que o militar estava em solo brasileiro.
Ainda segundo ela, além do vídeo com as residências destruídas publicado por ele recentemente, a acusação também apontou outros registros, feitos pelo militar e por seus companheiros de regimento, em que eles aparecem em locais que posteriormente foram explodidos — incluindo a destruição de um quarteirão inteiro de casas, segundo Pinheiro.
O pedido da ONG de investigação contra Vagdani foi acolhido em 30 de dezembro pela Justiça Federal do Distrito Federal. Alvo da ação, Yuval deixou o País no domingo (5) acompanhado por representantes da Embaixada de Israel em Brasília.