Quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 27 de abril de 2018
Seis meses após o STF (Supremo Tribunal Federal) determinar a abertura de inquérito sobre a edição de um decreto para o setor portuário, uma das principais suspeitas de investigadores da PF (Polícia Federal) é de que o presidente Michel Temer tenha lavado dinheiro de propina no pagamento de reformas em casas de familiares e dissimulado transações imobiliárias em nomes de terceiros, na tentativa de ocultar bens.
Marcela Temer, sua mulher, e o filho do casal são donos de alguns desses imóveis. Até agora, a investigação aponta que o presidente recebeu, por meio do coronel João Baptista de Lima Fillho, ao menos R$ 2 milhões em propina em 2014. Nesse mesmo ano, quando Temer foi reeleito vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff, duas reformas foram feitas, em valores semelhantes, em propriedades de familiares do emedebista, da filha Maristela Temer e da sogra, Norma Tedeschi.
Um dos fornecedores da reforma de Maristela afirmou ter recebido em dinheiro vivo pagamentos pelos produtos, todos das mãos de Maria Rita Fratezi, mulher do coronel Lima. A origem do dinheiro das obras são, para investigadores, a JBS e uma empresa contratada pela Engevix. Executivos da JBS afirmaram em delação que repassaram R$ 1 milhão a Temer, com intermediação do coronel, em setembro de 2014.
Um dos sócios da Engevix, José Antunes Sobrinho, em proposta de colaboração, disse ter sido procurado por Lima com um pedido de R$ 1 milhão para a campanha do emedebista, também em 2014. Pela linha de investigação do inquérito em andamento, o esquema no setor portuário começou há mais de 20 anos e chegou até os dias atuais, ou pelo menos até o mês de maio do ano passado, quando o presidente assinou um decreto prorrogando contratos de concessão e arrendamentos portuários, beneficiando companhias ligadas ao MDB.
O coronel Lima é tido como o principal elo dos supostos esquemas de Temer, por aparecer em casos diferentes que beneficiariam o presidente. Em uma conversa gravada na delação da JBS, Lima é citado pelo executivo Ricardo Saud como alguém que já tivesse recebido dinheiro. “Eu já entreguei dinheiro demais para o coronel lá. Nunca deu problema”, afirmou o delator, como consta na decisão de abertura do inquérito.
Em seguida, Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor de Temer, respondeu: “Esse é o problema… o coronel não pode mais”. A PF enviou ao Supremo na quinta-feira (26) um pedido de prorrogação do prazo do inquérito por mais 60 dias. Nessa segunda fase, o objetivo dos investigadores é aprofundar a conexão entre os serviços prestados aos familiares de Temer e concluir a análise de material apreendido com alvos da Operação Skala, deflagrada no fim de março.
O depoimento de outro amigo de Temer, José Yunes, também está sendo considerado importante. Ele disse à PF que um dos imóveis vendidos por ele a Temer foi doado ao filho do presidente três ou quatro anos atrás. Afirmou também que a casa que vendeu a Marcela foi paga com valores que pertenciam ao presidente. Os investigadores vão tentar ainda rastrear a origem dos recursos para as compras de imóveis.
Outro lado
O advogado de Temer, Brian Alves Prado, afirmou que “valores transacionados a partir de doações, aquisições de imóveis ou investimentos são absolutamente compatíveis com seus rendimentos declarados à Receita Federal” e que “os tributos e taxas sempre foram devidamente recolhidos ao erário”. A defesa disse que uma “simples consulta ao histórico de sua evolução patrimonial evidencia a paridade entre os valores de salários e ganhos de aplicações financeiras e as transferências realizadas”.