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Investigado por planejar atentados contra judeus no Brasil dá detalhes sobre o recrutamento de brasileiros para atos terroristas

Instituição havia criticado publicamente o que chamou de "exclusão" durante formulação da proposta. (Foto: Divulgação)

O depoimento de um dos investigados na operação para evitar atentados contra judeus no Brasil traz novos detalhes sobre o recrutamento de brasileiros para a prática de atos terroristas.

O sexto alvo da Operação Trapiche foi encontrado em Goiás e interrogado pela Polícia Federal de Brasília por videoconferência. No documento, ele conta detalhes da viagem ao Líbano, em fevereiro. A identidade do investigado não foi revelada.

Ele conta que recebeu dinheiro de um contato no bairro Brás em São Paulo para viajar a Beirute, que as orientações para a viagem vinham por WhatsApp de um celular paraguaio e que ficou em dois hotéis na capital libanesa com tudo pago pelos criminosos.

Segundo o relato dele, para encontrar o “chefe”, seguia de carro até um beco atrás de um campo de futebol, onde havia vários carros, e entrava depois num outro veículo com cortinas pretas.

Era recebido então por homens armados num prédio e ia para uma sala de entrevistas. No encontro, ele foi questionado se tinha capacidade para matar pessoas; o trabalho proposto era matar desafetos deles.

Para não ter risco de identificar o tradutor, que falava português, era obrigado a colocar a cabeça entre as pernas e o tradutor se escondia atrás de um biombo. Em sua primeira conversa com o “chefe”, foram quase cinco horas de palestra num quadro branco onde ele ensinava “instruções para a vida”.

Em um segundo encontro, foi sugerido que ele comprasse um táxi para espionar os passageiros — o que, segundo ele, também se negou a fazer. Ao se despedir do “chefe”, o brasileiro conta que recebeu um abraço, mas foi informado que, se os traísse, sofreria consequências muito graves.

No depoimento, ele afirma que não deu detalhes para ninguém e compreendeu que era uma organização terrorista que tentava recrutá-lo e que, já no Brasil, concluiu que se tratava do Hezbollah.

Ele também falou sobre valores e revelou que poderia receber inicialmente US$ 200 mil e mais um prêmio de US$ 500 mil. E que disseram que ele teria perfil de criar estrutura, recrutar pessoas, organizar tudo e outras pessoas matariam os alvos.

Antecedentes

O interrogado foi liberado na sexta-feira (10), após o depoimento. Ele já havia sido preso três vezes no Brasil, responde a dois processos por receptação. E foi absolvido em um caso de sequestro.

Chamou a atenção dos investigadores que o roteiro da viagem narrado no depoimento é semelhante ao relato feito por outro interrogado na última quarta (8). Os dois suspeitos também receberam o mesmo valor para voltar ao Brasil: US$ 5 mil. A Polícia Federal trabalha agora pra saber se o dinheiro é um pagamento inicial pelo recrutamento e como os suspeitos foram escolhidos pelo grupo criminoso.

Os depoimentos fazem parte de uma investigação que apura a cooptação de brasileiros para a prática de atos terroristas. Desde quarta, a PF cumpriu 12 mandados de busca e apreensão em Minas, São Paulo, Goiás e no Distrito Federal. Duas pessoas estão presas e duas estão foragidas.

 

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