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Investimento em bens de capital no Brasil em 2023 foi de 16,4%, contra média mundial de 26%

As taxas de poupança no Brasil também são bastante inferiores às de inúmeros países.(Foto: Reprodução)

A formação bruta de capital fixo (FBCF) no Brasil foi de 16,4% do PIB em 2023, bem abaixo da média mundial de 26%, de acordo com dados do IBGE e do Banco Mundial compilados pelo especialista em políticas públicas Rogério Nagamine Costanzi.

Em artigo publicado no boletim da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o especialista constata ainda que a FBCF brasileira é inferior não só à de países emergentes como Índia (30,8%) e Rússia (21,9%), mas também à de vizinhos sul-americanos como Paraguai (20,6%), Argentina (18,6%), Bolívia (17,5%), Colômbia (17,4%) e Uruguai (17,4%) – a média da América Latina e Caribe é de 19,1%.

De um total de 143 países selecionados da base de dados do Banco Mundial, no ano de 2023, o Brasil ocupava um vergonhoso 124.º lugar em nível de investimento.

Os dados são preocupantes porque a FBCF é um importante indicador do nível de investimento que gera condições para o crescimento sustentado. A FBCF mede o quanto as empresas ampliaram seus bens de capital – maquinários e equipamentos, por exemplo –, ou seja, o quanto investiram em bens que produzem outros bens.

Taxas mais elevadas de FBCF sinalizam que a capacidade de produção do país está crescendo e que o empresariado se sente otimista em relação ao futuro. Como se vê, o baixo índice de investimento no Brasil explicita que nem uma coisa nem outra são realidade.

Pior, tem sido assim historicamente. De acordo com o levantamento de Costanzi, os investimentos passaram de 20,6%, na média entre 1970 e 2002, para 17,8%, na média entre 2003 e 2023.

Os baixos níveis de FBCF, sugere o levantamento, parecem estar relacionados “ao baixo nível de poupança agregada, bem como aos elevados déficits fiscais pelo conceito nominal que acaba por absorver parcela relevante da poupança privada para pagamento de benefícios e pessoal, tendo em vista a atual composição do gasto público”.

As taxas de poupança no Brasil também são bastante inferiores às de inúmeros países. De um total de 120 nações, o País ocupa a 95.ª posição entre os que mais poupam.

Em 2023, a taxa de poupança no Brasil foi de 15% do PIB, significativamente menor que a da China (43,6%) e a da Coreia (33,8%). Seria tentador argumentar que em países asiáticos a cultura da poupança é muito arraigada, mas, embora isso seja verdadeiro, também o é o fato de que países latino-americanos mais pobres que o Brasil, como Paraguai (20,1%), Honduras (19%) e El Salvador (18,1%), também poupam mais.

Na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a taxa média de poupança é de 22%, e na União Europeia, de 24%. Para piorar, o nível de poupança no Brasil caiu ainda mais em 2024, para 14,5%, o nível mais baixo entre 2020 e 2024.

E não há nenhum indicativo de que esse cenário vá mudar no futuro próximo, já que o governo Lula da Silva vem lançando mão de uma série de medidas de estímulo ao gasto, entre as quais a “antecipação da antecipação” do pagamento do 13.º salário a aposentados. Tradicionalmente paga no segundo semestre, o governo agora decidiu que, em 2025, a primeira parcela do 13.º salário aos aposentados ocorrerá já no mês de abril.

Ante a queda de popularidade, o governo tenta a todo custo recuperar a confiança do brasileiro, ou melhor, do eleitor, promovendo medidas que privilegiam o consumo (como o novo modelo de crédito consignado para trabalhadores com carteira assinada), mesmo em um cenário de taxas de juros elevadas.

A Selic em dois dígitos, e rumo a novas altas, é um outro aspecto desse cenário de baixo investimento produtivo e baixo índice de poupança interna. Tudo somado, tem-se o porquê de os indicadores de crescimento do País, do qual o governo tanto se ufana, serem ilusórios.

Sem contenção de gastos, estímulo à poupança interna nem ajuda efetiva do governo ao Banco Central no combate à inflação, o País segue condenado a espasmos de crescimento econômico. Posto de outra forma, o baixo nível de investimento e de poupança explica por que o Brasil desperdiça, há décadas, o potencial de sua economia.

 

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