Quarta-feira, 09 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 26 de março de 2025
Com a depreciação da moeda brasileira e a inflação no País, investir no exterior pode ajudar quem está poupando para a aposentadoria. Para especialistas, incluir ativos internacionais na composição da carteira previdenciária pode ajudar a manter o poder de compra, além de mitigar riscos e fortalecer ganhos.
A estratégia é “eficiente” na hora de minimizar danos já que o investidor cria uma proteção em relação à desvalorização cambial”, explica Claudia Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da Fundaçao Getúlio Vargas (FGV).
Segundo estudo do Centro de Estudos e Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV), qualquer camada de renda socioeconômica no país tem uma exposição à variação cambial no componente de inflação, podendo ser de cerca de 15%, a depender da renda. Isso porque diversos produtos da cesta de consumo dos brasileiros, como alimentos e combustíveis, são atrelados ao dólar, gerando impacto da variação para a população.
Por isso, além de proteger da inflação local e da desvalorização cambial, o investimento no exterior reduz o impacto de questões macroeconômicas do país, como instabilidade política, volatilidade cambial, além de possibilitar acessar setores diferentes.
“O investidor terá uma proteção contra o risco cambial e isso pode servir para quem deseja ter um futuro gasto em moeda estrangeira, como pensar em fazer viagem ou estudar no exterior, ou mesmo para quem vive no Brasil, porque se protege de variação de preços de diversos produtos”, explica Yoshinaga.
Quanto da carteira deve estar no exterior? Os cerca de 15% de exposição à ‘inflação do dólar’ podem ser uma referência para os investimentos no exterior, “como um valor mínimo para se proteger de variação cambial já estando no Brasil, podendo, inclusive, ser uma porção maior do patrimônio, dependendo do planejamento financeiro”, diz.
No entanto, esse percentual vai variar de acordo com perfil de cada investidor e dos planos para o período. No caso da aposentadoria de uma pessoa que pretende morar no exterior, por exemplo, será necessário mais proteção cambial.
Além disso, segundo Yoshinaga, diferentes fases de vida vão demandar aportes diferenciados e quanto mais cedo começar a alocar, melhor, já que o investidor ganha uma ajudinha no processo: o tempo de acumulação de juros ao longo do período. Por outro lado, exemplifica ela, as condições de poupar aos 25 talvez sejam menores do que aos 35.
Também é necessário ponderar três fatores na conta na hora de investir, segundo ela:
– Qual é o custo de vida que o investidor espera nessa fase de aposentadoria: Isso leva em consideração, por exemplo, local onde ele vai viver o período (se em capitais, no interior ou até mesmo no exterior) e quanto precisará sacar mensalmente.
– Quando será a aposentadoria e qual a expectativa de duração dessa aposentadoria?
– Rentabilidade dos investimentos. Aqui depende de quando o investidor começará a aportar para a aposentadoria. Como exemplo, a coordenadora cita que aos 55 anos o prazo de acumulação é mais curto, além de precisar de um aporte maior e estratégia mais conservadora. “Nesse caso, a possibilidade de se investir em coisas muito arriscadas se reduz bastante porque o investidor estará mais preocupado em não perder esse capital acumulado”, diz.
Embora para muitos o primeiro lugar que vem à cabeça ao se falar em investimentos no exterior seja os Estados Unidos, Yoshinaga destaca que os investidores também podem explorar outras regiões, como Europa e Ásia, que oferecem investimento em setores fortes na China, Índia e Sudeste Asiático, além de áreas consolidadas e de alta liquidez, como o setor financeiro europeu, energias renováveis e a indústria de luxo, entre outros.
A diversificação também possibilita aos investidores acessar setores não disponíveis no Brasil. Na bolsa brasileira, por exemplo, apenas 16 ações são de Inteligência Artificial (IA) e tecnologia. No entanto, a decisão de onde alocar depende do perfil do investidor e do tempo que ele vai levar para a aposentadoria já que, a depender desse prazo, os investidores podem correr riscos diferentes, segundo analistas ouvidos pelo Valor Investe.
O que ficar de olho na hora de investir: mercados com mais liquidez e mais consolidados; situação econômica atual: se o país está em fase de expansão econômica, enquanto o país do investidor está em estagnação ou com economia em ritmo de crescimento menor; e mercados emergentes, considerando que são “potencialmente mais arriscados, porque são economias que estão buscando uma expansão econômica, mas que teriam em contrapartida a possibilidade de entregar mais retorno”, diz Yoshinaga.
Em que ativos investir? A carteira de investimentos voltada para aposentadoria deve ser construída de acordo com o perfil de risco e tempo de acumulação disponível de cada investidor. Por esse motivo, o tamanho adequado de posição dedicado para cada investimento e a escolha de ativos pode variar consideravelmente de pessoa para pessoa, explica Gabriel Tossato, analista de investimentos da equipe de Alocação & Fundos da Ágora.
Para os investidores que pretendem se aposentar no curto prazo, Enzo Pacheco, analista da Empiricus Research descreve que a porcentagem da alocação deve ser menor em bolsa, variando de 20% a 30% porque “caso o mercado continue se valorizando, o investidor conseguiria captar parte dos ganhos”. A maior parte dos aportes para esse perfil seria em renda fixa, olhando para o cenário atual de juros mais altos em alguns países, diferente do que era visto anos atrás.
Já para os que poupam para o longo prazo, pensando em 20 ou 30 anos, a maior parte pode estar em alocações de risco, como ETF de bolsa (de 50 a 60%) e o restante em ativos que produzem renda, como títulos de renda fixa e REITs (fundos imobiliários americanos).
Na visão de analistas, o investimento em índices de referência, por meio de ETFs (Exchange Traded Funds) — que são fundos que replicam índices de mercado — como o S&P 500, considerado o principal índice de ações dos Estados Unidos, pode garantir um bom retorno, diluindo riscos para quem tem horizonte de longo prazo e faça aportes recorrentes. O S&P 500 oferece diversificação no dólar americano, considerada uma moeda forte.
Segundo Guilherme Bellizzi, estrategista de BDR (recibo de ações listadas no exterior) da Santander Corretora, o índice entregou, ao longo dos últimos 100 anos, um retorno anualizado real (acima da inflação) de 6,5% em dólares. Já ao longo dos últimos 5 anos, o retorno real foi de 9%, acima do histórico. As informações são do jornal Valor Econômico.