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Por Redação O Sul | 21 de novembro de 2017
O principal fornecedor da Apple na Ásia vem empregando estudantes, que trabalham horas extras ilegais, para montar o iPhone X, como parte de seus esforços para atender a procura pelo aparelho, depois de atrasos na produção. Seis estudantes de segundo grau disseram que costumam trabalhar até 11 horas por dia na montagem do iPhone X em uma fábrica em Zhengzhou, na China, o que representa uma jornada de trabalho ilegal para estudantes estagiando em empresas, de acordo com as leis do país.
Os seis disseram que são parte de um grupo de três mil alunos da Escola de Trânsito Ferroviário Urbano de Zhengzhou que foram enviados em setembro para trabalhar na unidade local da Hon Hai Precision Industry, mais conhecida como Foxconn, empresa de Taiwan que monta os aparelhos da Apple na China.
Os estudantes, com idades entre os 17 e os 19 anos, disseram ter sido informados de que o estágio de três meses na fábrica era uma “experiência de trabalho” compulsória para se formarem.
“Estamos sendo forçados pela nossa escola a trabalhar aqui”, disse Yang, de 18, uma estudante que está treinando para ser atendente em trens —ela pediu que seu nome completo não fosse citado por medo de punição. “O trabalho nada tem a ver com os nossos estudos”. Ela diz que monta até 1,2 mil câmeras do iPhone X a cada dia.
Quando contatadas sobre as queixas dos estudantes, Apple e Foxconn reconheceram ter descoberto casos de estagiários trabalhando jornadas superiores à permitida e disseram que tomariam medidas corretivas. Mas as duas empresas afirmaram que os alunos estavam trabalhando na fábrica voluntariamente.
A Apple disse que uma auditoria havia revelado “casos de estagiários que trabalhavam mais horas que o permitido em uma instalação de um fornecedor na China”, acrescentando que “confirmamos que os estudantes são voluntários, recebem remuneração e benefícios, mas eles não deveriam ter sido autorizados a trabalhar mais horas que o permitido.”
A Foxconn disse que “todo o trabalho é voluntário e remunerado devidamente, [mas] os estagiários fizeram horas extras de uma forma que viola a lei que proíbe estagiários de trabalhar mais de 40 horas por semana”.
O lançamento do iPhone X, que celebra o 10º aniversário do iPhone, foi prejudicado por problemas de produção e terminou adiado para novembro, ante a data típica de lançamento das atualizações da Apple, em setembro. A capacidade de produção não utilizada por semanas gerou queda de 39% no lucro trimestral da Foxconn.
De acordo com um veterano empregado da Foxconn, a fábrica de Zhengzhou contrata estudantes a cada ano durante a temporada de maior movimento, de agosto a dezembro. Essas contratações podem levar o total de trabalhadores da unidade de 100 mil a mais de 300 mil, e eles montam até 20 mil iPhones por dia. Mas neste ano a necessidade de trabalhadores sazonais foi maior, acrescentou o empregado.
“As práticas de compras da Apple e outros são projetadas para reduzir custos e trabalhar com o sistema ‘just in time'”, disse Jenny Chan, professora assistente da Universidade Politécnica de Hong Kong. “Isso nos conduz ao uso de mão de obra estudantil que pode ser contratada de forma flexível.”
A Foxconn disse que seu programa de estágios era “executado em cooperação com governos locais e diversas escolas profissionalizantes” na China.
O ministério na Educação da província de Henan, onde fica Zhengzhou, notificou todas as escolas profissionalizantes da província, instruindo que enviassem “estagiários para trabalho” na Foxconn, de acordo com uma pessoa que viu a notificação.
Estudantes também vieram de cidades próximas como Kaifeng, Nanyang e Xinxiang, de acordo com um empregado da Foxconn que trabalha no iPhone X. Tentativas de contato com o ministério provincial da Educação não foram respondidas.
Prover mão de obra estudantil flexível é uma das normas preferenciais que o governo de Henan oferece à Foxconn para manter a empresa lá. “A província de Henan faz tudo que pode para garantir que a Foxconn prospere aqui. Não é só a arrecadação de impostos — queremos melhorar a indústria, construir um setor de exportação, ter uma parceria internacional [com a Apple]”, disse um funcionário local.