Sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 8 de outubro de 2023
O Irã denunciou como decisão “tendenciosa e política” a atribuição do Prêmio Nobel da Paz à defensora dos direitos das mulheres presa na República Islâmica, Narges Mohammadi. A ativista, que cumpre penas de prisão em Teerã que somam mais de 10 anos, estava no topo da lista de mais cotados para receber a honraria.
“Soubemos que o Comitê Nobel atribuiu o Prêmio da Paz a uma pessoa que foi considerada culpada de reiteradas violações da lei e que cometeu atos criminosos”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Nasser Kanani.
Ele acrescentou que “condenamos esta ação tendenciosa e política”, insistindo em que na declaração do comitê foram difundidas “afirmações errôneas” sobre assuntos internos do Irã. O porta-voz também denunciou “um ato político e intervencionista, que implicava vários governos europeus” e que a atribuição do prêmio faz parte das “pressões exercidas por entornos ocidentais contra o Irã”.
Mohammadi, que nas últimas duas décadas tem sido acusada reiteradamente de difundir propaganda e cometer atos contra a segurança nacional, foi recompensada “por seu combate contra a opressão das mulheres no Irã e sua luta por promover os direitos humanos e liberdade para todos”, declarou a presidente do Comitê Nobel norueguês, Berit Reiss-Andersen.
O prêmio à jornalista e ativista, de 51 anos, também foi criticado pela imprensa iraniana.
Para a agência oficial de notícias Irna, o Comitê Nobel recompensou “uma mulher que colaborou com grupos terroristas”, “desconhecida em seu próprio país, especialmente pelas mulheres iranianas”. O objetivo do prêmio, acrescentou, é “politizar o conceito de direitos humanos”.
A agência de notícias Tasnim, por sua vez, descreveu Mohammadi como uma “condenada” que cometeu atividades “subversivas”.
Voz contra a repressão
Mohammadi se engajou na defesa da igualdade e dos direitos das mulheres quando ainda era uma jovem estudante de Física. Nascida em 1972 em Zanjan, no noroeste do Irã, ela estudou a disciplina antes de se tornar engenheira, ao mesmo tempo em que começou a atuar no jornalismo, trabalhando para veículos progressistas.
Na década de 2000, Mohammadi se juntou ao Centro para os Defensores dos Direitos Humanos, do qual hoje é vice-presidente. A organização foi fundada pela iraniana Shirin Ebadi, que também recebeu o Nobel da Paz, há exatos 20 anos.
Em seu livro “White Torture” [“Tortura Branca”, em tradução literal], a ganhadora do Nobel da Paz de 2023 denuncia as condições de vida dos prisioneiros no Irã, especialmente o isolamento e abusos que ela mesma diz ter sofrido.
Entre maio de 2015 e outubro de 2020, esteve presa por acusações de ter “formado e liderado um grupo ilegal”, que defendia a abolição da pena de morte no país. Foi novamente condenada, em maio de 2021, a 80 chicotadas e 30 meses de detenção por “propaganda contra o sistema” e “rebelião” contra a autoridade prisional.
Em novembro de 2021, foi detida mais uma vez perto de Teerã, ao assistir a uma cerimônia em memória de um homem morto em uma manifestação de 2019 contra o aumento dos preços dos combustíveis. Em janeiro de 2022, foi condenada a mais oito anos de prisão e a 70 chicotadas.