Isolado politicamente após ser preterido pelos partidos do Centrão, Ciro Gomes oficializou sua candidatura, na sede do PDT, em Brasília, com críticas ao mercado financeiro. “Essa gente quebrou o nosso País a pretexto de austeridade”, disse o candidato à Presidência da República. Ele voltou a se referir ao mercado como “baronato” – mesma expressão que usava nas eleições de 2002.
Apesar do tom, Ciro Gomes também tentou se vender como um nome moderado, conciliador e capaz de abraçar as agendas do Centrão e da esquerda. No discurso lido, sem improviso, o presidenciável misturou rigor fiscal, segurança pública e afagos à classe média com homenagens a Leonel Brizola e elogios ao governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A última vez que o PDT lançou um candidato à Presidência foi em 2006, com o senador Cristovam Buarque (DF), que atualmente está no PPS.
Com a ausência de dirigentes de outros partidos, a sombra do “não” do Centrão pairou sob a convenção. Pedetistas se esforçaram para diminuir a força dos que agora se juntaram à candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB). Antes da chegada de Ciro ao evento, seu coordenador da campanha, o ex-governador Cid Gomes, afirmou que “a prioridade sempre foi uma aliança progressista, principalmente com o PSB”.
Conforme o jornal O Estado de S.Paulo, o líder do partido no Congresso, André Figueiredo, foi ainda mais longe: “Com a saída do Centrão, a questão da vice fica mais simples de resolver. Acredito que ela possa ser oferecida ao PSB”, disse. Sem a presença de representantes na homologação de Ciro, nomes do PSB e do PCdoB pedem mais tempo para a definição. No PSB, por exemplo, dirigentes falam que a tendência para uma coligação com o PDT já não é mais majoritária. A reunião da executiva do PSB, que iria deliberar sobre o assunto, já foi adiada duas vezes e deve ocorrer no dia 30 de julho.
A ala nordestina do partido quer fechar com o PT e a tese de candidatura própria ou de neutralidade têm conquistado mais adeptos. No PCdoB, a presidente da legenda, Luciana Santos, mantém o discurso de “união do campo da esquerda”, mas não define se essa união poderia se dar ao redor de Ciro. A candidatura de Manuela d’Ávila continua de pé. Foi nesse contexto que Ciro chegou à convenção. Ao som de Asa Branca e “Brasil pra frente, Ciro presidente”, o candidato fez uma rápida aparição no palco montado na ala externa da sede do partido.