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Isolamento e alívio: a rotina do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, após a denúncia de tentativa do golpe

Pessoas próximas relatam mudanças de comportamento do militar. (Foto: Reprodução)

O tenente-coronel Mauro Cid, peça central na denúncia de tentativa de golpe que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro, vive dias de reclusão e isolamento no Setor Militar Urbano, em Brasília, a apenas nove quilômetros do Palácio do Planalto, onde atuou por quatro anos.

Desde que o caso ganhou os holofotes, Cid se tornou uma figura cada vez mais afastada da vida pública e dos amigos, mantendo as janelas de sua residência permanentemente fechadas para evitar imagens. Ele, que trabalhou diretamente com Bolsonaro como ajudante de ordens, recentemente revelou à Justiça que sente sua vida “acabada”, uma declaração impactante dada em março de 2024.

Ele tem saído raramente de casa, e, quando o faz, é para pequenos trajetos, como uma caminhada de menos de cinco minutos até um restaurante local que serve marmitas. Frequentado por militares de alta patente, o restaurante Costelita é onde Cid foi visto, visivelmente abatido e arredio, retirando suas refeições sem interagir com ninguém.

Em uma ocasião, um general tentou cumprimentá-lo, mas Cid, aparentemente absorvido em sua rotina, não percebeu a saudação, mostrando sinais de um homem desconectado e focado em manter sua privacidade. A situação dele se agravou após a delação premiada que firmou com a Justiça, cuja parte do sigilo foi recentemente levantada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

A colaboração de Cid foi peça-chave para o pedido de ação penal contra Bolsonaro e outras 32 pessoas, acusadas de envolvimento em uma tentativa de golpe. Entre as condições do acordo, ele está usando tornozeleira eletrônica, o que limita ainda mais seus deslocamentos e o mantém sob vigilância constante.

Pessoas próximas ao tenente-coronel afirmam que ele está mais isolado e desconfiado de todos ao seu redor, incluindo familiares e amigos, acreditando que informações sobre ele foram repassadas à polícia e à imprensa. Além disso, sua rotina foi modificada, com Cid adotando trajetos diferentes para evitar a vigilância que acredita sofrer, incluindo a sensação de ser “monitorado 24 horas por dia”.

Desconfiado

O clima de paranoia é visível na vida de Cid. Segundo relatos, ele começou a desconfiar até dos mais próximos e passou a agir de maneira mais secreta. Para garantir sua segurança, dois militares fazem a guarda da rua onde ele mora, e 500 metros ao redor de sua casa estão bloqueados com cones, restrição que impede o trânsito de qualquer pessoa que não seja moradora local.

As mudanças no comportamento de Cid, que antes era mais aberto e ativo, revelam um homem que se sente cercado e vulnerável em meio à repercussão das investigações e ao avanço das acusações contra ele. A colaboração de Cid, apesar de trazer um certo alívio ao militar e seus advogados ao tornar públicos detalhes de suas mensagens, também implicou em um futuro incerto.

Embora as trocas de mensagens possam reforçar a ideia de que ele era apenas um “cumpridor de ordens”, o ex-ajudante de ordens sabe que, caso se torne réu, suas chances de ascender na carreira, como a promoção a coronel, estão praticamente eliminadas.

Cid passou por duas prisões, entre maio e setembro de 2023 e, novamente, entre março e maio de 2024, quando sua vida profissional e pessoal foi completamente alterada. Durante esses períodos, novas informações extraídas de seu celular surgiram, ampliando o escopo das investigações e oferecendo novos caminhos para as apurações.

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