Terça-feira, 25 de março de 2025
Por Redação O Sul | 24 de março de 2025
A decisão marca apoio considerável ao plano de Trump para deslocar os moradores do território palestino
Foto: ReproduçãoO gabinete de segurança de Israel aprovou uma proposta para facilitar a emigração de palestinos da Faixa de Gaza, uma medida que críticos alertam que pode equivaler a uma limpeza étnica. O ministro das Finanças israelense, Bezalel Smotrich, disse no domingo (23) que o gabinete de segurança aprovou a proposta do ministro da Defesa Israel Katz.
Segundo ele, o objetivo é organizar “uma transferência voluntária para moradores de Gaza que expressarem interesse em se mudar para países terceiros, de acordo com a lei israelense e internacional, e seguindo a visão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump”.
A decisão marca apoio considerável ao plano de Trump para deslocar os moradores do território palestino e acontece apesar da promessa anterior do primeiro-ministro israelense de não deslocar permanentemente a população civil de Gaza.
Autoridades israelenses responderam que a emigração seria voluntária e em conformidade com os padrões legais internacionais. Mas críticos afirmam que qualquer deslocamento em massa de moradores de Gaza no meio de uma guerra equivaleria a uma limpeza étnica, um ato associado a crimes de guerra e crimes contra a humanidade sob a lei internacional.
Além disso, grupos de ajuda argumentam que os ataques israelenses tornaram a vida em Gaza quase impossível.
Martin Griffiths, a principal autoridade de ajuda emergencial da ONU, chamou o território de “inabitável”, destacando que seu povo está “testemunhando ameaças diárias à sua própria existência”.
O plano prevê o estabelecimento de uma administração dentro do Ministério da Defesa “para preparar e facilitar o movimento seguro e controlado de moradores de Gaza que desejam se mudar voluntariamente para terceiros países”, de acordo com uma declaração da pasta.
Seu trabalho incluiria “estabelecer rotas de movimento, verificações de pedestres em cruzamentos designados na Faixa de Gaza” e infraestrutura para permitir que as pessoas saiam.
O ministro de Estado para Relações Exteriores da Autoridade Palestina, Varsen Aghabekian Shaheen, disse que os palestinos “estão firmes em permanecer em suas terras e não se mudarão”.
O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, afirmou no domingo que o país está usando “todos os meios para implementar a ideia do presidente dos Estados Unidos”, de acordo com a declaração do ministério.
Neste mês, Donald Trump pareceu voltar atrás em comentários sobre o deslocamento da população de Gaza, dizendo aos repórteres que “ninguém está expulsando nenhum palestino”.
Steve Witkoff, o enviado especial dos EUA para o Oriente Médio, disse no mês passado que a iniciativa americana para reconstruir Gaza não equivaleria necessariamente a um “plano de despejo” e que foi projetada para “abalar o pensamento de todos”.
No ano passado, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que seu país não tinha intenção de deslocar palestinos ou ocupar Gaza.
“Quero deixar alguns pontos absolutamente claros: Israel não tem intenção de ocupar Gaza permanentemente ou deslocar sua população civil”, comentou o premiê em uma declaração em vídeo em janeiro de 2024.
A proposta de Trump, no entanto, trouxe a ideia à tona, seno que políticos de Israel agora discutem abertamente a emigração em massa de moradores de Gaza como uma solução para a guerra.
Além disso, Katz ressaltou na semana passada que Israel pode manter uma presença permanente no território vizinho.
O grupo israelense Peace Now criticou à proposta aprovada por Israel, dizendo que “o estabelecimento da administração para expulsar os palestinos de Gaza é uma das ações mais estúpidas de um governo que perdeu toda a direção e o pensamento lógico”.
A perspectiva também atraiu duras críticas de líderes árabes, especialmente Egito e Jordânia, que deveriam absorver o grande número de palestinos expulsos.
Especialistas também alertaram que deslocar os palestinos desestabilizaria ainda mais a região e ameaçaria a segurança dos estados vizinhos.
O ministro das Finanças israelense, Bezalel Smotrich, afirmou no domingo que o gabinete de segurança também aprovou a expansão dos assentamentos judaicos na Cisjordânia ocupada.
Ele observou que 13 áreas na Cisjordânia seriam separadas dos assentamentos existentes e seriam reconhecidas como assentamentos independentes.
“Em vez de nos escondermos e pedirmos desculpas, estamos levantando a bandeira, construindo e nos estabelecendo. Este é outro passo importante no caminho para a soberania real na Judeia e Samaria”, argumentou, usando o nome pelo qual os israelenses se referem à Cisjordânia.
O Conselho Yesha, um órgão que representa os assentamentos judaicos, disse que, em janeiro de 2024, havia 150 assentamentos na Cisjordânia.
O órgão avaliou que a decisão expõe uma “mentira de longa data de que (Israel) não estabelece novos assentamentos, mas apenas ‘bairros’ de assentamentos existentes” e que é “outro prego no caixão que o governo de Israel está preparando para a única chance de um futuro de paz e segurança”.
Uma declaração enviada pelo gabinete de Smotrich pontuou que a medida ocorre no “cenário da aprovação de dezenas de milhares de unidades habitacionais na Judeia e Samaria e representa outro passo significativo no processo de normalização e regulamentação do assentamento”.
Smotrich e outros ministros de direita têm pressionado uma expansão agressiva de assentamentos para declarar a soberania israelense sobre a Cisjordânia, o que seria um desafio à lei internacional e às resoluções do Conselho de Segurança da ONU. As informações são do portal de notícias CNN Brasil.