O presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, afirmou nesta sexta (14) que o apoio à JBS “foi um dos negócios mais bem bolados e bem sucedidos” do BNDESPar, o braço de participações da instituição, que detém 21,3% das ações da companhia.
A declaração foi dada durante a divulgação do Livro Verde do BNDES, documento elaborado para defender as operações do banco nos últimos anos e, segundo o executivo, fazer uma “grande prestação de contas, diante de dúvidas suscitadas a partir do momento político”.
O banco é o maior acionista minoritário do frigorífico e, com apoio da Caixa Econômica Federal, pediu recentemente a convocação de uma assembleia de acionistas para discutir a gestão da empresa após a crise provocada pela delação de seus controladores Joesley e Wesley Batista.
Rabello de Castro disse que o objetivo é “discutir os rumos dessa gestão” e evitou defender o afastamento da família Batista do comando. Ele admitiu, no entanto, que o tema pode ser debatido na assembleia. Um outro foco de atuação do banco será “facilitar acordo com credores” para a dívida de curto prazo, disse ele.
“Estamos conscientes de que a empresa passa por momento delicado e quem mais sofre com com isso é o mercado de carnes, já que a falta de liquidez da empresa reduz sua capacidade de comprar”, comentou o presidente do BNDES.
O apoio ao frigorífico foi alvo da Operação Bullish, da Polícia Federal, em maio, que obteve mandados de condução coercitiva de 37 pessoas ligadas à JBS e ao BNDES.
Sem favorecimento
No Livro Verde, o banco sustenta que não houve favorecimento ao grupo dos irmãos Batista e que as operações com a JBS são lucrativas para o banco.
De acordo com o documento, a JBS recebeu 26% dos recursos do banco destinados a apoiar o setor de carnes entre 2005 e 2016. A Bertin, adquirida pela empresa dos Batista, recebeu outros 12%, mas antes da aquisição.
Já a BRF ficou com 16% e a Marfrig, com 14%, e outras empresas, com 32%. Ao todo, foram desembolsados R$ 31,2 bilhões para o setor.
O BNDES defende que, até o fim de 2016, o apoio à BNDES tinha um resultado positivo de R$ 3,560 bilhões: o banco injetou R$ 8,110 bilhões na empresa, já recebeu R$ 1 bilhão em dividendos e outros R$ 4,040 bilhões com a venda de ações.
No fim de 2016, o valor da fatia na empresa valia R$ 6,631 bilhões. O valor, porém, foi reduzido com a queda no preço das ações após a delação. Rabello de Castro diz, porém, que o banco não terá prejuízo com isso porque não pretende vender os papeis agora.
Cuba
Entre as operações questionadas pelo mercado, o relatório dá destaque também ao financiamento de bens e serviços para exportações, produto que foi remodelado após a entrada da ex-presidente Maria Silvia Bastos Marques em maio de 2016.
Alguns contratos assinados por empresas investigadas pela Operação Lava Jato chegaram a ser suspensos. O banco diz que, em 20 anos de atuação, apenas um projeto de financiamento à exportação registrou atrasos nos pagamentos: o contrato do Aeroporto de Nacala, em Moçambique.
O texto destaca projetos em Angola e em Cuba. Na ilha caribenha, diz, os empréstimos garantiram a exportadores brasileiros “acesso a um mercado restrito e com dificuldades de obtenção de crédito”.
PSI
No Livro Verde, o BNDES faz uma crítica ao PSI (Programa de Sustentação do Investimento), criado pelo governo Lula após a crise internacional de 2008 e responsável pelos aportes de R$ 440,8 bilhões do Tesouro no banco entre 2008 e 2014.
Para Rabello de Castro, os dados mostram que o programa deveria ter sido encerrado em 2011, já que não produzia mais efeitos de arraste de outros investimentos. Em 2009, por exemplo, cada real desembolsado no PSI gerava R$ 1,18 em investimento. Em 2010, esse número caiu para R$ 0,58.
Ainda assim, Rabello de Castro argumenta que o aporte líquido do Tesouro no banco foi menor, considerando que o banco retorna ao Tesouro impostos e dividendos. Entre 2006 e 2016, diz o documento, o banco recebeu, em valores atualizados, R$ 1,025 trilhão e devolveu R$ 866,220 billhões.
TLP
Rabello de Castro disse que a polêmica envolvendo declarações suas a respeito da TLP foi um mal entendido e que não defende mudanças na taxa criada pelo governo para substituir a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo).
“Não foi crítica alguma, a gente [no Brasil] está muito ansioso”, reclamou, dizendo que apenas tentava explicar “uma coisa óbvia” no cálculo da nova taxa: que, por refletir o custo de captação do Tesouro no mês anterior, pode ter variações mais bruscas dependendo do momento político e econômico.
As declarações levaram ao pedido de demissão de dois diretores do banco, Vinícius Carrasco e Claudio Coutinho —este será substituído pelo ex-diretor do Banco Central Carlos Thadeu de Freitas. (Folhapress)