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Variedades Jeitinho brasileiro: Quem precisa de celular? Alunos resgatam câmeras digitais, e escolas embarcam na onda

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Estudantes substituem celulares por câmeras compactas nas escolas. (Foto: Reprodução)

De costas para a turma, a professora Veralice Gomes da Silva, de Ibirité (MG), estava escrevendo no quadro no fim da aula quando ouviu um grupo de alunas chamá-la para uma selfie. A mestre logo se virou lembrando às jovens que os celulares estão proibidos nas escolas desde o começo do ano. No entanto, se surpreendeu com o que viu na mão das meninas: uma câmera digital daquelas que foram febre no começo de 2000, antes da proliferação dos smartphones. Apesar de inusitada, a cena tem sido cada vez mais comum nas salas de aula do país.

“Achei inacreditável a capacidade de adaptação às novas normas. Essa geração não vive sem fotos, não importa de onde sejam”, diz a professora da rede estadual mineira.

Em janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a lei que proíbe a utilização de aparelhos eletrônicos portáteis pessoais, inclusive telefones celulares, nas escolas, para proteger a “saúde mental, física e psíquica das crianças e adolescentes”. O objetivo central da norma é afastar as crianças do uso inadvertido de redes sociais e da competição pela atenção delas com essas plataformas.

Sem os telefones, os adolescentes resgataram as câmeras digitais das gavetas. Elas não possuem acesso à internet, mas são usadas para registrar momentos de sua adolescência e também para tirar fotos do quadro com as anotações dos professores – o que era feito até então com os celulares.

Ana Paula Souza, de Pelotas (RS), tem um filho com transtorno do déficit de atenção com hiperatividade. Ela conta que manda o menino de 14 anos com uma câmera que tem quase a idade dele para ele registrar o quadro porque isso o ajuda a acompanhar os estudos.

“Ele tem bastante dificuldade em copiar do quadro e manter o caderno em dia”, conta. “A câmera que ele está usando tem 13 anos de vida. Quando a catamos no fundo do armário, achamos muita coisa no cartão de memória, de momentos de que nem lembrávamos.”

Os jovens contam que, além de ser uma forma de manter seus registros, a estética retrô também atrai. As imagens, claro, já aparecem nas redes sociais mais utilizadas por jovens, especialmente o Tiktok, facilmente identificáveis, com com muito menos resolução e nitidez do que é possível alcançar com os celulares. Matheus Lemes, de Aruanã (GO), é um apaixonado por essas câmeras e tem uma coleção delas. Ele diz que a baixa qualidade da foto, em comparação com as imagens dos celulares, lembra a sua infância.

“Tenho 15 câmeras digitais. Já gostava delas, e agora, com a proibição dos celulares, todo mundo está pedindo para eu tirar as fotos da gente e da escola”, conta, entusiasmado com o sucesso da sua paixão entre os colegas.

Maria Gabriel Harvey, do ensino médio da escola Eleva, no Rio, conta que “as coisas parecem mais reais” com as câmeras digitais. “Sou apaixonada pela qualidade delas”, elogia.

Ferramenta pedagógica

Fabiano Franklin, head of school da Escola Eleva Urca, conta que as câmeras digitais são uma iniciativa criativa de alguns alunos que buscavam alternativas para a proibição do uso de celulares em sala de aula. Por isso, a própria instituição colocou a disposição dos jovens algumas semi-profissionais, de melhor qualidade que as caseiras, para atividades pedagógicas.

“Estes alunos demonstraram um interesse natural em documentar suas atividades e projetos de maneira estruturada. As câmeras digitais são amplamente utilizadas em diversas disciplinas, especialmente nas aulas de artes visuais, em que os alunos documentam seus processos criativos e realizam projetos de fotografia artística”, explica.

Na Escola Sesi de Macapá, o psicólogo escolar Caio Renan Carvalho viu nessa nova febre uma oportunidade para estimular os estudantes a prestarem atenção ao dia a dia da escola. Ele está preparando, com os alunos, uma exposição de fotos produzidas a partir do olhar dos jovens e suas câmeras digitais.

“Primeiro, essa chegada da câmera digital veio como certa afronta à lei que proibiu os celulares. Mas a gente decidiu usar como um instrumento de sociabilidade com um direcionamento pedagógico”, diz.

Professores e outros profissionais envolvidos com escolas contam que a lei que proibiu os celulares ainda está sendo assimilada pelos estudantes. Primeiro, houve uma fase de protestos e insatisfação generalizada. Agora, a situação começa a se estabilizar, ainda não sem problemas. Caio conta que viu alunos voltarem a correr pela escola, cena que tinha desaparecido nos últimos anos. No entanto, também relata que aparecem episódios de crises de ansiedade gerados pela separação do aparelho.

“Os smartphones geram uma profunda dependência que a escola está tentando contornar”, observa.

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