Morreu Jobim, nosso segundo boxer. O primeiro foi Elvis, que se foi há uns 12 anos. Na mesma semana de sua morte adquirimos um filhote de três meses da mesma raça. Chamamos-lhe Jobim em homenagem ao maior músico da MPB.
As duas primeiras noites de Jobim não foram agradáveis: ganiu desesperadamente, não deixou ninguém dormir. Mas logo descobriu que havia coisas mais interessantes a fazer. E saiu para explorar as circunvizinhanças.
Jobim, como os de sua raça, tinha uma cara meio assustadora, mas era pura impressão. Dócil e obediente, raramente quebrou a regra de não poder entrar em casa. E quando o fez, por distração ou teimosia, um olhar bastava para que voltasse ao seu lugar.
Exceção: nos dias de trovoada adentrava a casa e de lá só saía depois de passar a tempestade. Os cães têm ouvidos sensíveis – detestam o ronco de motocicletas, e ficam apavorados com estrondos de trovão e de fogos de artifício.
Num final de ano qualquer, Jobim ficou em casa sozinho, e com o foguetório do réveillon, fugiu em desespero. Fomos à procura dele cheios de remorsos – já sabíamos do medo que o barulho estridente lhe causava. Colamos cartazes em postes, anunciamos a perda em sites de animais, vasculhamos as redondezas, andamos quilômetros atrás de uma pista.
A cada pista falsa, a cada dia que passava, fomos perdendo o ânimo, e lá pelo décimo dia nos demos por vencidos, rezando para que uma alma boa o tivesse acolhido. Naqueles dias aprendemos uma bela lição: apesar de todo o mal e a indiferença no mundo, há muitas, muitas pessoas de alma bondosa que se interessam e ajudam como podem nessa situação.
Tanto é assim que um anjo, digo uma moça (Denise) nos ligou, dizendo ter avistado um boxer que lhe pareceu desorientado. Deu uma volta enorme na estrada, aproximou-se, deu-lhe água, ganhou-lhe a confiança. No celular, e dali mesmo, procurou nos sites de animais e logo encontrou o anúncio do cão perdido. O anjo embarcou Jobim no seu carro e levou-o até nossa casa de praia. Foi uma festa.
Foi a grande aventura de sua vida. Ficou uns dias meio sestroso mas logo, logo voltou ao que sempre foi: enérgico, vivaz, curioso, exultava de alegria no convívio conosco, era popular entre os vizinhos, os parentes, os amigos que frequentavam nossa casa.
Como é comum nos boxers, Jobim adorava crianças. Ele gostava das minhas netas e o sentimento era recíproco. Quando elas chegavam ele não sabia o que fazer, ficava tonto de alegria.
O fato é que Jobim, companheiro de todas as horas, já um pouco velho e doente, foi definhando até que o coração parou de bater.
Apesar da vida breve e da tristeza da partida, valeu a pena. Os animais de estimação têm muito a nos ensinar em paciência, moderação e amor incondicional. São gentis e carinhosos – às vezes param e ficam nos admirando com um olhar comovido de ternura e afeição. Gostar deles, abraçá-los, conviver com eles, nos faz melhores e mais humanos.
Jobim partiu, sentiremos falta, mas frequentará nossas lembranças e nossos melhores sonhos. Como disse Maria Clara, nossa netinha de quatro anos, para a avó: “Vó, não chore, o Jobim foi para o céu dos bichos”.
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