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Jogo pesado

Bolsonaro e Lula sonhavam com uma vitória logo no primeiro turno. (Foto: divulgação/Ricardo Stuckert e Tomaz Silva/Agência Brasil)

Bolsonaro e Lula sonhavam com uma vitória logo no primeiro turno, mas nenhum levou. Teremos, portanto, mais algumas semanas da disputa presidencial, novos debates, desdobramentos dos conflitos de familiares e amigos, o jogo bruto das facções nas redes sociais. Tenhamos fé e paciência.

Que o bolsonarismo saiu fortalecido não se discute. Não apenas os números das pesquisas em certos lugares simplesmente se inverteram em favor de candidatos bolsonaristas, como os seus representantes mais icônicos e expressivos, se elegeram com folga, deixando os adversários comendo o pó da estrada.

O resultado mais brilhante foi o de Tarcísio de Freitas em São Paulo. Ele caiu de paraquedas no estado há pouco mais de um ano e na disputa com o PT (Fernando Haddad) ultrapassou-o ainda no primeiro turno, quando tudo indicava o inverso. Está com um pé no Palácio Bandeirantes, considerando a espetacular performance do bolsonarismo junto ao eleitorado paulista.

De todo modo, o grande jogo ainda não terminou. E se Lula não venceu a eleição no primeiro turno, como queria (Bolsonaro também queria; ainda semana passada ele disse que venceria no primeiro turno com 60 por cento dos votos), nada está perdido e não se pode dizer que ele foi mal. Em momento algum das pesquisas, mesmo nas mais favoráveis, se registraram projeções que lhe dessem vitória no primeiro turno, fora da margem de erro.

Afinal, ele chegou à frente com uma vantagem apreciável de seis milhões de votos, face a Bolsonaro. Com mais uns poucos 1,5 % a mais de votos, teria resolvido a eleição já no domingo. A distância que ele tem de percorrer para ganhar na segunda volta é muito menor do que a de Bolsonaro.

É inexpressiva a quantidade de votos de Lula que pode migrar para Bolsonaro – mas a recíproca também é verdadeira. Isso, em igualdade de condições. Quem entretanto detém a máquina de governo pode propiciar favores extras na reta de chegada. A turma de Bolsonaro já na segunda-feira cogitava de conceder aos beneficiários do Auxílio-Brasil um 13º salário ainda este ano.

A máquina de governo pode ainda ser fartamente usada no universo de milhões de eleitores que votaram em branco ou nulo, ou que não compareceram às urnas no primeiro turno. Esses eleitores serão mais facilmente alcançados nas redes sociais e na capilaridade das igrejas evangélicas – instâncias em que o bolsonarismo é mais forte e articulado.

Enfim, as horas que nos separam da eleição de segundo turno serão de emoções intensas, de ambos os lados que restaram na disputa, e envolvendo todos nós, os que não pertencemos às respectivas greis.

É lastimável e assustador, mas não há margem para prever uma eleição em termos elevados. Os combates serão duríssimos. Também não haverá espaços para as proposições, os planos do futuro, as soluções que o país precisa.

Tomara que não seja parecido com uma briga de rua – destemperos verbais, acusações trocadas, e , no limite, enfrentamentos físicos e violência política. Na história recente, é a prova mais difícil pela qual passará a nossa incipiente democracia.

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