Domingo, 23 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 19 de fevereiro de 2025
Na delação premiada, Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, faz revelações sobre a trama golpista envolvendo o ex-presidente, relata conversas com seu ex-chefe sobre a venda das joias sauditas e diz que dinheiro para o golpe circulava até em caixa de vinho. O sigilo da delação caiu nesta quarta-feira (19), por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A decisão de Moraes ocorre na esteira da denúncia da Procuradoria-Geral da República sobre a trama golpista. Bolsonaro, Cid e mais 32 pessoas foram denunciadas nesta terça (18) pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet.
Segundo Gonet, Bolsonaro liderou uma organização criminosa para derrubar a democracia e impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre o fim de 2022 e o início de 2023.
Veja abaixo detalhes da delação de Cid, um dos principais homens de confiança de Bolsonaro durante seu mandato.
– O dinheiro das joias: Mauro Cid relatou que ele e seu pai, o general da reserva Mauro Lourena Cid, repassaram um total de US$ 86 mil (R$ 489 mil, na atual cotação) a Jair Bolsonaro entre 2022 e 2023, após a venda de joias recebidas pelo então presidente.
Segundo Cid, os relógios Rolex e Patek Philippe foram vendidos por R$ 68 mil e o kit de joias Chopard foi vendido por R$ 18 mil. As duas vendas foram realizadas nos Estados Unidos, em 2022.
Os valores provinham da venda de joias dadas a Bolsonaro pelo governo da Arábia Saudita. Só que os presentes pertencem ao Estado brasileiro, não a Bolsonaro.
Cid relatou que, ao viajar aos EUA para negociar parte das peças, retirou do valor final os gastos com passagens e aluguel de carro antes de repassar os fundos ao ex-presidente.
Tanto os US$ 30 mil quanto os US$ 10 mil entregues por Lourena Cid foram passados a Mauro Cid, que os repassou a Bolsonaro. Já os US$ 20 mil foram entregues diretamente a Osmar Crivelatti, assessor de Bolsonaro.
– Bolsonaro e a tentativa de golpe: A delação também aborda a tentativa de golpe de Estado entre 2021 e 2023 para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-presidente foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República por cinco crimes, incluindo liderança de organização criminosa armada e golpe de Estado.
Cid relatou que participou de reuniões em que militares discutiam uma possível intervenção, mas afirmou que não esteve envolvido diretamente em “nenhum planejamento detalhado”. Ele descreveu a existência de grupos militares divididos entre mais “exaltados” e aqueles que tentavam “frear” Bolsonaro.
A delação também revelou que Bolsonaro ordenou o monitoramento do ministro Alexandre de Moraes, então presidente do Tribunal Superior Eleitoral. O objetivo era verificar se ele e o vice-presidente Hamilton Mourão estavam mantendo encontros secretos.
A investigação sobre a tentativa de golpe segue em andamento, e o STF prevê o julgamento de Bolsonaro ainda em 2025 para evitar contaminação do processo eleitoral.
– Filhos de Bolsonaro: A delação do tenente-coronel Mauro Cid revelou que os filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), tiveram posições opostas em relação à tentativa de golpe de Estado. Enquanto Flávio defendia que Bolsonaro aceitasse a derrota e assumisse o papel de líder da oposição, Eduardo estava entre os mais radicais e incentivava o pai a permanecer no poder.
O sigilo da delação de Mauro Cid foi derrubado pelo ministro Alexandre de Moraes nessa quarta-feira (19), trazendo à tona detalhes sobre os bastidores da articulação golpista. Segundo Cid, Flávio fazia parte de um grupo conservador, que via a aceitação do resultado das eleições como a melhor estratégia. Essa ala aconselhava Bolsonaro a evitar um confronto direto e a organizar uma oposição forte para o governo de Lula.
O depoimento também revelou que havia um grupo radical, do qual Eduardo Bolsonaro fazia parte. Essa ala se dividia em dois segmentos: um que tentava encontrar provas de fraude nas eleições para justificar uma recontagem de votos e outro que defendia um golpe de Estado armado, acreditando que Bolsonaro contaria com apoio de forças populares e de CACs (Colecionadores, Atiradores e Caçadores).
Além de Eduardo Bolsonaro, o grupo radical contava com a participação da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, do ex-ministro Onyx Lorenzoni, do ex-assessor Felipe Martins e do senador Jorge Seiff. Eles pressionavam Bolsonaro a assinar um decreto que instauraria um Estado de Defesa, anulando o resultado das eleições e mantendo-o no cargo.
Já o grupo conservador, liderado por Flávio Bolsonaro, incluía nomes como Ciro Nogueira (então ministro da Casa Civil), o advogado-geral da União Bruno Bianco e o Brigadeiro Batista Júnior (comandante da Aeronáutica). Eles argumentavam que um golpe poderia ser um erro estratégico e que a oposição deveria ser fortalecida de maneira democrática. As informações são do portal de notícias G1.