Domingo, 22 de dezembro de 2024
Por Tito Guarniere | 12 de novembro de 2022
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Aos 80 anos, faleceu Jorge Uequed, cinco vezes deputado federal pelo RS, e uma das vozes mais respeitadas da política do Rio Grande do Sul.
Uequed era uma personalidade ímpar, singular. Se destacava pelo discurso vertical, na escola dos oradores dos comícios – retórica vibrante, ritmo perfeito nas frases diretas, linguagem de combate frontal com os adversários.
Os adversários tremiam quando ele falava nos palanques ou quando, durante os mandatos, ele subia à tribuna. Era duro nos pronunciamentos, mas sem resvalar para a manifestação tosca, o xingamento bruto, a escatologia.
De família bem postada na escala social, Uequed entretanto, foi um aliado incondicional da classe trabalhadora. Nos seus mandatos, votou sempre a favor dos projetos que criavam ou ampliavam os direitos sociais. Filiado ao MDB, PMDB, PSDB , poderia ter pertencido com naturalidade ao PT.
Foi um bravo e corajoso combatente na luta contra a ditadura militar. A postura de esquerda nunca impediu que ele tivesse um relacionamento ativo e civilizado com os adversários. A política, para o nosso personagem, era um embate de ideias e visões de mundo e o ódio não fazia parte do seu vocabulário.
Na Assembleia Constituinte, se destacou pelo empenho eficaz de aprovar direitos sociais – um amplo capítulo, o mais completo, a mais longa lista de direitos e garantias da história. Alguns deles têm a sua chancela direta, as digitais do seu compromisso com a classe trabalhadora, que ele conhecia tão bem na sua base eleitoral, em Canoas e na região. O melhor exemplo foi o Seguro-Desemprego.
Jorge Uequed, junto com políticos de escol como Airton Soares e Hélio Duque, teve papel essencial na criação do bloco parlamentar Brasil-Povo Árabe, cuja bandeira mais importante era o reconhecimento da Organização de Libertação da Palestina, e a instalação de um a representação oficial da OLP em Brasília.
Durante anos, ele foi o responsável – praticamente sozinho – pela publicação do semanário O Timoneiro, que circula até hoje em Canoas. Ali eles expunha suas ideias, com a mesma combatividade de sempre, mas também com ironia e humor ferino, para combater a insensatez e os desmandos das elites e de certos políticos no âmbito regional e nacional. O Timoneiro se tornou uma voz potente e combativa dos valores e princípios da justiça, da liberdade, do Estado Democrático de Direito.
Uequed era homem de muitas amizades. Paulo Brossard e Pedro Simon estão na lista de amigos de quem ele se orgulhava e com quem convivia com genuíno prazer. Era fácil gostar dele, apreciá-lo em seu otimismo(algo exagerado), sua maneira espontânea e simpatia contagiante. Ao seu redor o ambiente era sempre de alto astral.
Enfim, Jorge Uequed era homem de muitos méritos, É uma perda grande. É indispensável anotar que o seu compromisso com os trabalhadores e com os desvalidos ia além da retórica – na sua vida pessoal, e até o fim, o coração aberto se comprazia com os gestos concretos de ajuda fraterna e material que ele praticava.
Deixa a esposa e companheira de vida Rosemary, os filhos Jorge, Luciane e Gisele e netos.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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